Este é um pequeno ensaio que escrevi por uma ligeira criticidade que me ocorreu estes dias.
Preconceitos
Você gostaria de viver num mundo mais justo? Você acharia legal passar os seus dias na terra num lugar mais seguro onde todo mundo fosse livre para fazer, acreditar no que quisesse? Diga-me se não seria bom existir onde o ser humano vivesse em paz, em harmonia e que ninguém explorasse ninguém. Creio eu que todos que não tem um coração cruel e corrompido pelo poder diriam que este lugar é excelente, é o máximo. Diriam também que é uma utopia. De fato, é uma utopia, uma quimera. A possibilidade do mundo se tornar assim é difícil, longínqua, quase impossível considerando o clichê da esperança ser a última que morre.
É uma utopia – mas você, como já respondeu – gostaria de viver nela.
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- Esses comunistas ridículos.
- O Comunismo não presta, não dá certo.
- Temos que exterminar esses vermelhos.
- Eu não vou abdicar do que eu consegui com o suor do meu rosto.
- Pobres preguiçosos.
- Quem faz teatro é comunista.
- Quem usa all-star é comuna.
- Você e essa sua camisa de comunista ridículo.
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Quantas vezes você já não ouviu essas frases? Uma delas pelo menos. Muitas - não é mesmo?
É evidente que com esse texto não quero ficar dando lição de moral – meu papel não é nem nunca será esse. Só gostaria que vocês me acompanhassem na minha análise e que vocês opinassem se faz ou não sentido.
É notável na sociedade atual como a palavra “comunista” ganhou um cunho, uma conotação, negativa. Às vezes a ouço até sendo usada como xingamento. Na verdade não me incomodei com isso por muito tempo até recentemente quando estranhei. Mas, peraí, ser comunista é ruim?
Não venho aqui defender a revolução, longe disso. Não quero discutir se o socialismo, se a ditadura do proletariado, deu certo. Quero saber na verdade o porquê que se pode xingar uma pessoa de “comunista”. Ser comunista não é ruim, não mesmo. Se você respondeu as perguntas do primeiro parágrafo “sim” e você está disposto a lutar por aqueles preceitos durante a sua vida você é, pelo menos um pouco, e, no discurso, comunista. Isso é ruim?
Pergunto se acreditar na construção da igualdade social, da liberdade, e da não não-exploração do trabalho alheio é ruim. Acho que talvez um pouco mais de respeito por esta posição seria adequado pois, apesar de ninguém ser obrigado a acreditar nestes conceitos, nestas idéias, é impossível negar a sua contundência.
O preconceito “anticomunista” desavisado e burro, reina. As pessoas hoje associam comunismo à baderna, anarquismo à bagunça. Perguntasse para o Marx e para o Bakunin se eles achavam que o comunismo era caótico e bagunçado, que o anarquismo era uma baderna; aposto que a resposta seria uma bronca ou uma explicação muito didática da utopia comunista de abolição do Estado capitalista e da propriedade privada em favor da liberdade dos indivíduos e do fim da luta de classes, do fim da desigualdade social que, inegavelmente, gera a violência, gera o seqüestrador, gera o ladrão que vai lá roubar a sua casa.
Respeito é bom – só isso que prego. Respeito de ambos os lados. É claro que não adianta eu falar isso do lado comunista e nada dizer ao lado mais liberal, ao lado mais reacionário, lado que eu respeito mas, confesso, não pertenço.
As esquerdas também têm preconceitos: “Capitalistas burgueses podres”, “Porcos burgueses” e muitas outras, além do próprio preconceito esquerda-esquerda. Deve-se exigir deste lado da moeda o mesmo respeito que se exige do outro.
A crítica mútua é essencial mas a crítica deve ser, antes de tudo, minimamente fundada. Quantas vezes eu já não ouvi pequenos vermelhos metidos e desinformados falar com nojo de supostos burgueses presunçosos? Quantas situações de escurraçamento já também não presenciei em que supostos capitalistas ferrenhos pré-julgavam “comunista idiota” alguém que, por ventura, usava all-star? Devo dizer que a resposta de ambas as perguntas é “Muitas.”.
2 comentários:
Olá,
gostei do texto. Respeito é fundamental.
Isso me lembrou uma história... meu pai sempre me chamou de petista, e veja bem, eu nunca votei no PT. Mas ele insistia que a minha ideologia, que aprendi em casa, era vermelha, e sorria de lado. Eu achava graça, nunca brigamos por isso.
Eu não acredito mais em bandeiras, acho que elas já mostraram tudo o que tinham pra mostrar.
Desejo um mundo melhor para todos, mais humano.
Abraços,
(eu falo demais)
é muito isso, isabella, muito.
e acontece sempre. um preconceito mútuo e incessante. além de tudo, burro.
e é como se existissem só dois lados, né?
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