quarta-feira, março 28, 2007


(Austin Osman Spare - pintor)
ah, gente, o layout novo até que fico bonitinho, vai... hahahaha, 'to orgulhoso!
e tem outra coisa importante. esses links aí do lado não estão aí à toa. são interessantes, vale a pena dar uma olhada.

quinta-feira, março 22, 2007

amigos;
para vocês que aqui entram e dão uma olhada vai um pedido: comentem!

peço para cada um deixar a sua marca de endosso, de repúdio ou de consenso. é muito importante pra mim e creio ser para todos.
viva o diálogo, este que não começa se ninguém começar a falar (e não se propaga se um falar sozinho).
grande abraço, chico.

terça-feira, março 20, 2007

1.
Algo sobre o que aconteceu. Mais uma vez o ex-aluno se metendo. O que acontece é que não consigo parar de falar, e como quase ninguém lê isso aqui melhor é falar aqui e não encher o saco de ninguém. Santa-cruzense é sempre santa-cruzense, sinto muito, pessoal.
Será mesmo o tal rebeldismo-sem-causa?

Creio ser muito simplista a análise de vandalismo gratuito e acho um grande exagero chamar de atividade pré-pensada com um objetivo pseudo-terrorista contestador de uma autoridade escolar que, convenhamos, não é tão opressora como muitas no passado (e, por que não, no presente) que tinham também sua autoridade contestada.

O problema neste caso deve ser analisado numa esfera mais racional e ampla, desprovida de emoções, medos. A explosão tem um motivo por que se não tivesse não acontecia. O que é simplista, penso eu, é chamar tal ato de vandalismo gratuito ou de atribuir toda a culpa nos seus executores. A “culpa”, se é que podemos atribuí-la a um grupo e não a toda sociedade, não é só deles.

Acho cientificista e fechada demais a hipótese de que este grupo de “vândalos”, de jovens de classe média alta, tenha em si uma qualidade a qual dou a alcunha de gene da imbecilidade. É o que parece que a maioria acha, distanciando assim a possibilidade do meio familiar e escolar ter influenciado no fato consumado. É um distanciamento confortável no qual os pais, professores e diretores conseguem por meio dele a confortável posição de donos da verdade e da razão, passadores de sermão e indignados observadores de algo que nada teria a ver com a sua realidade. Dizer que estes jovens não passam de rebeldes-sem-causa é não ir além com uma autocrítica necessária para a compreensão plena dessa problemática.

Os mesmos pais que pensarão indignados em tirar os filhos desta escola permissiva são justamente os próprios “culpados” dessa brincadeira perigosa. A combinação de uma educação familiar alienada da realidade com a superproteção é um pontapé inicial considerável que devemos levar em conta na reflexão sobre o acontecimento desta terça-feira 20 de março.

Se existem pessoas responsáveis pela a educação dos meninos, por sua criação, essas pessoas são justamente este grupo de acomodados. Se eles fizeram o que fizeram o fato é que os responsáveis não são somente eles.

Medir as conseqüências do que se faz é algo que se aprende com experiência de vida. Considerar danos à vida de outras pessoas só se aprende entrando em contato com uma realidade de perda, de gravidade real dos problemas. Uma bomba não ser só uma brincadeira divertida também.

Experiência de vida é contato com realidade. Contato este que os executores deste ato são desprovidos, são privados. Por quem? Nada mais nada menos do que os próprios indignados e acusadores pais, professores e diretores que rogam apaixonadamente pela expulsão e possível castração dos responsáveis. Estes encolerizados seres engravatados, que, curiosamente, em casa e em suas salas de aula, erguem mais e mais muros e grades, simbólicos, ideológicos ou reais, que distanciam o atual jovem burguês da realidade e da vida como ela é.

A brincadeira sem graça e inconseqüente não é de responsabilidade só deste grupo de infelizes rapazes e sim de todos nós, burguesia inconseqüente.

***

E aí vai uma música para pensar.

Se não tiver saco veja o vídeo:

http://youtube.com/watch?v=FwRu7VHYGbk

Classe Média - Max Gonzaga

Composição: Max Gonzaga

Sou classe média
Papagaio de todo telejornal
Eu acredito
Na imparcialidade da revista semanal
Sou classe média
Compro roupa e gasolina no cartão
Odeio “coletivos”
E vou de carro que comprei a prestação
Só pago impostos
Estou sempre no limite do meu cheque especial
Eu viajo pouco, no máximo um pacote cvc tri-anual
Mais eu “to nem ai”
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não “to nem aqui”
Se morre gente ou tem enchente em itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda
Mas fico indignado com estado quando sou incomodado
Pelo pedinte esfomeado que me estende a mão
O pára-brisa ensaboado
É camelo, biju com bala
E as peripécias do artista malabarista do farol
Mas se o assalto é em moema
O assassinato é no “jardins”
A filha do executivo é estuprada até o fim
Ai a mídia manifesta a sua opinião regressa
De implantar pena de morte, ou reduzir a idade penal
E eu que sou bem informado concordo e faço passeata
Enquanto aumenta a audiência e a tiragem do jornal
Porque eu não “to nem ai”
Se o traficante é quem manda na favela
Eu não “to nem aqui”
Se morre gente ou tem enchente em itaquera
Eu quero é que se exploda a periferia toda
Toda tragédia só me importa quando bate em minha porta
Porque é mais fácil condenar quem já cumpre pena de vida

sexta-feira, março 16, 2007

Venho agora com mais um texto. Grades - é o assunto. Busco agitar isso aqui um pouco. É polêmica. Quero ajuda para incrementar o texto - ainda está embrionário.

Palavras de Ordem – Anexo-Manifesto II:

Abaixo pedagogia do enjaulamento

I.

Venho percebendo a ânsia de construção de grades em meu (antigo porém de certa maneira eterno) colégio, o Santa Cruz, a algum tempo. A anos atrás as pequenas cercas se tornaram grandes alambrados e redes de metal foram postas por toda a escola, algumas com sentido explícito e outras, bem, outras nem tanto. O digníssimo leitor me pergunta se este assunto já não foi abordado no tópico 3 de Palavras de Ordem, o Arquitetura da Destruição, e devo responder que em parte sim mas isto não tornará de maneira nenhuma este anexo redundante. Tratarei aqui de alguns aspectos aliados aos tratados no citado tópico com uma ênfase justamente na colocação de grades, ensaio que creio colocar um ponto de vista que certamente poderia ser útil para a análise crítica de qualquer espaço de qualquer escola particular (sem pretensões, útil para discussão e não para ser creditado como verdade absoluta pois este está longe de sê-la) de São Paulo com algumas evidentes adaptações.

Começo com minha opinião, minha polêmica (idiota para uns, idealista e utópica para outros e, para mim, tão real quanto o chão que piso) visão que defende a retirada imediata de qualquer gradil, muro, alambrado, rede de metal ou cerca que não seja estritamente necessário para a manutenção de práticas as quais estes são imprescindíveis (em sua suma maioria esportes mas também em áreas de manutenção e nos limites da propriedade da escola com propriedade de particulares ou áreas perigosas como linhas de alta tensão).

Devemos seguir para a essência deste questionamento; a pergunta do que é uma grade em todos os aspectos possíveis. Não sei se abordarei todos eles e se não o fizer (o que é provável) aceito com muito prazer outras interpretações.

Penso que o conceito da grade e sua presença vai além do físico. Uma grade em uma escola, seja ela pública ou privada, é algo que representa alguma coisa. Existe, evidentemente, a diferença entre grade e cerca (que será explicada mais adiante) e também variados jeitos da implementação deste aparelho mas isso não afeta a carga ideológica-psicológica-pedagógica que a grade carrega com si mesma. Tal carga pode não ser pensada diretamente pelos educandos, pela massa discente, presente na escola, mas, conforme colocado pelo pensamento de Charbonneau, esta é um elemento que se faz presente no espaço do colégio e este exerce, afirma, influência decisiva na formação pedagógica trazida pela tal instituição. A forma segue sua função, já dizia o famigerado professor de arquitetura no velho filme The Fountainhead, já citado justamente no tópico 3 de PdO.

Comecemos definindo grade além de seu significado material. O que a grade faz? Ela protege, guia, proíbe, divide. A grade faz a decisão (do latim decidere que significa cortar) entre que o deve ou não passar e, principalmente, se naquele espaço é possível a livre-circulação. Considerando a visão de Charbonneau de espaço analisemos então estas palavras-conceito no plano mais abstrato, num plano mais ideológico.

A grade guia. Podemos então consultar o dicionário Houaiss na sua terceira definição do verbo guiar:

³ “Ajudar, aconselhar, esclarecer (alguém) na escolha de um modelo, de uma diretriz intelectual ou moral; dirigir-se”.

Nessa definição podemos observar como o ato de guiar se aproxima, tange, o processo de doutrinação. A única diferença é que quando se guia se aconselha e quando se doutrina se incute um ponto de vista. A doutrina pressupõe um dogma, uma afirmação inquestionável para a mesma que serve de base forte para a transmissão de todo um modo de pensar e agir. Segundo o Houaiss doutrina tem, além dos significados já colocados o de “fazer adestramento de; amansar, amestrar”.

Então se guiar e doutrinar são atos diferentes a grade não se inclui nas definições para a segunda? Devemos pensar, na verdade, em quais definições a grade se encaixa. A grade é uma matéria dura que impede a passagem, que bloqueia, mesmo que parcialmente, a visão da realidade, a visão da verdade, sendo ela inquestionável pelo fato de ser imóvel. Esse elemento, além disso, trata-nos como animais, animais que necessitam ser amansados, adestrados e guiados como um grande rebanho. Com estes pensamentos em qual definição a grade se encaixa?

Um alambrado é doutrina, é dominação e é sinal de ideologia e sistema de controle. Não julgo estes conceitos e não penso que toda dominação é má ou que toda a doutrina deve ser subjugada por alguma visão máxima e imediata da verdade. Há de se haver doutrina pois ela é necessária, justamente, para incutir um raciocínio crítico, um ponto de vista questionador, na educação de qualquer ser humano.

A questão é que a grade não é a doutrina e sim símbolo de uma doutrina. Não analisamos ainda as idéias ligadas à proteção, à divisão e à proibição. Idéias estas que penso que se interligam.

Neste ponto divido minha argumentação em duas frentes. A primeira delas consiste em discutir as grades que separam o espaço privado da escola do espaço público, das ruas; a segunda é sobre as grades dentro da instituição.

II.

Uma grade do colégio em relação à rua é para a proteção dos seus alunos, certo? É impossível conceber um colégio particular (em especial o Santa) sem suas grades? Os bandidos, seqüestradores, assaltantes estão esperando à porta para nos pegar e tirar as grades seria abrir o portão para essa corja de criminosos?

Estas perguntas me levam a uma análise questionadora dessa realidade. Uma análise que questione estes pressupostos dando-os como incertos como realmente penso que são.

A experiência ainda não aconteceu portanto não sabemos o que aconteceria se todas as grades que separam a escola da rua fossem retiradas. Por mais “realistas” que as previsões sejam elas não abarcam o resultado real e são justamente as mais “realistas” as quais se reflete um dos fatores principais deste ramo da análise: o medo. O temor que as classes A, B e C tem da chamada violência urbana.

Na análise mais clichê possível qualquer medíocre poderia indicar que a violência urbana existe devido à desigualdade social grotesca presente nas nossas grandes metrópoles e, por que não, distribuída pelo mundo inteiro. Outra análise clichê um pouco, mas não muito, não mesmo, mais sofisticada é de que o problema da desigualdade só pode ser resolvido com a Educação.

Vemos no Brasil uma exaltação da Educação, que, seguindo o senso comum mais uma vez, está marginalizada, jogada às moscas. Devemos educar as classes mais pobres para garantir a elas um futuro mais digno. Escola pública de qualidade, investimento à longo prazo. Muito bonito e muito central essa discussão. O problema é que não vemos o outro lado da moeda, igualmente importante.

Se a solução para a desigualdade é a Educação seria a Educação específica só para os setores mais necessitados da população ou seria a Educação num conceito mais amplo? Penso que formar um pensamento de igualdade social, um pensamento pleno, preocupado com as mazelas do mundo, na burguesia também é essencial.

A classe dominante, a classe condutora do processo de desenvolvimento nacional deve participar do projeto de igualdade social assim como os mais pobres. O rico, o burguês e, por que não, a classe média, devem então pensar na sociedade como um todo, devem perceber a desigualdade e a diferença entre os setores da população.

Contato é uma palavra essencial neste ponto. A Educação da burguesia deve estabelecer contato, diálogo, com o resto da sociedade. Uma escola que se fecha ao mundo em todos os aspectos não tem, de maneira nenhuma, uma formação global e plena e, obviamente, não está interessada em formar uma elite pensante e transformadora da realidade onde está inserida.

O jovem da elite, assim como ela própria, tem medo das outras classes. Segundo este setor este deve ser educado plenamente na teoria, mas, na prática... na prática é sempre diferente.

É nesse ponto que eu queria chegar. A prática da Educação social, transformadora da burguesia acomodada e egoísta em uma elite fundada na igualdade social e no desenvolvimento de todos os setores da sociedade é a prática do espaço – enquanto a teoria, o conteúdo, é das salas de aula e sai da boca do professor.

Como educar o burguês que o pobre é seu igual se, à 10 metros, se encontra uma grade que busca a segregação e, fundamentalmente, a pretensa proteção dos jovens.

Reflito se, ao tirarmos as grades, a Educação social de qual falamos não se consumaria de modo mais pleno. O contato do jovem burguês com o mundo que o cerca é essencial para este perceber a sua realidade, seus problemas, suas belezas intrínsecas, e desenvolver um senso crítico. Por que este homem tem que por seu filho numa escola pior que a minha? Por que ele mora em um lugar menos digno que eu se é igual a mim?

Vivemos inexplicavelmente sob o signo do medo da classe baixa. Eliminadas as barreiras a famigerada dialógica de Paulo Freire se instalaria. O prédio da escola começaria, então, a dialogar com o público. Os de fora veriam os de dentro e vice versa. Olho no olho. Realidade conjunta. Junta.

A grade é, no meu modo de ver um tanto polêmico, uma das causas do assalto ou do seqüestro. Ensina à classe rica o medo e o preconceito do contato com outros setores e incute em seus jovens a semente da perpetuação da desigualdade social; seja pelo senso comum não cumprido, seja pela falta noção de realidade ou seja pelo ensino do egoísmo, do não-diálogo, e, assim, por conseqüência, da acumulação do capital.

Devo admitir que faço estas afirmações com ressalvas. O colégio é privado e tem o direito de delimitar seus limites. O problema na minha visão é o como ele o faz. Simplesmente peço para repararem o tamanho das grades de qualquer colégio.

III.

Continuando agora pretendo abordar um tema que certamente despertará menos polêmica e mais concórdia. É senso comum, mais uma vez, perguntar-se o motivo das inexplicáveis grades intracolégio.

Seja segregando a área do teatro, seja “resguardando” o espaço da rua, cercando os pequeninos, prendendo ar e grama – as grades as quais aqui me refiro não conseguem ser explicadas nem pela lógica ou razão e muito menos pelo sentimento ou paixão.

Coloco mais uma vez aqui o papel doutrinador das grades, como elas nos tratam como irracionais, como rebanho, e como só sua visão já influi na formação de quem passa por aquela escola. Elas batem de frente na liberdade com responsabilidade de Charbonneau. Como o jovem desenvolverá sua liberdade plena na escola cheia de grades? É um contra-senso.

Qualquer argumento do mantimento das grades intracolegiais é absurdo no sentido em que sempre se tem um contrário de igual ou maior força. A grade é um elemento anti-pedagógico por excelência e temos como exemplo simples a cerca para “resguardar” o espaço da rua para os pequenos do fundamental não sejam atropelados. E se ensinarmos a eles atravessar a rua? A escola é lugar para quê?

IV.

Volto à minha linha de raciocínio principal para concluir e propor reflexões. Não venho com acusações infundadas falando mal das grades. Analisando racionalmente este fenômeno podemos ver neste elemento o seu caráter, como eu já disse antes, doutrinador, dominador, arrebanhador, segregador, protetor e mascarador da realidade.

Parece-me que a proposta é ensinar pela disciplina. É ensinar descolado do momento histórico, descolado da realidade. É ensinar sem o comprometimento espacial com o senso crítico ou com a própria pedagogia.

Temo encerrar sem dizer que qualquer grade tem o caráter doutrinador negativo no sentido em que nos acostumamos à elas e passamos a não questioná-las mais.

Que vivamos a diferença, a congregação, a sociedade e a realidade como um todo para que, finalmente, consigamos atingir um dos objetivos do estado brasileiro reformado em 1988 – construir uma sociedade genuinamente solidária (assistencialismos e caridades de mercado e de gozo próprio à parte, ver item 2 da bibliografia).

BIBLIOGRAFIA:

1. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir, trad. Raquel Ramalhete. Vozes, 1997. Original: Surveiller et punir, Gallimard, 1975.

2. BUCCI, Eugênio e KEHL, Maria Rita. Videologias. Boitempo, 2005. (in páginas 180 – 187, cap. Exibicionismos).

3. FREIRE, Paulo. Extensão ou Comunicação?. Paz e Terra, 2003.