sábado, maio 12, 2007

3.
Hoje eu não quero falar muito não. só fazer umas rápidas observações.


Eu sempre reflito sobre qual foi o recorte que eu fiz em PdO e qual é o recorte que faço da realidade. Agora entrei na faculdade e as questões evidentemente se ampliam, os problemas se ampliam, e, diferentemente do colégio, tem gente pronta à ação.
Sim eu estou falando da ocupação da reitoria da USP em 3 de maio em resposta aos decretos do governador Serra. Muito tenho pensado sobre isso, se eu deveria me mobilizar e entrar na luta estudantil - o problema é que hesito.
Não me mobilizei até agora e creio, pelo jeito que as coisas estão andando, que não vou me mobilizar. Isso não quer dizer que eu esteja alienado da discussão, bom, esperem, eu explico.
Não tenho nada contra protestos, vocês devem saber muito bem. No meu ponto de vista uma democracia tem de ter pontos de vista diferentes, isso é óbvio. O meu problema aí não é contra as reivindicações dos estudantes. Eu não gostaria de estudar num prédio em frangalhos e creio que deve existir discussão em cima dos tais polêmicos decretos - o problema não é esse. Pra mim o tratamento anacronicamente violento e superficial da situação geral é que é o real problema.
Invadir um lugar assim violentamente é, na minha opinião, baixar o nível da discussão. Os radicais podem até dizer que é contradição eu dizer que sou idealista e propagar essas idéias mas isto, digo, é um entendimento pobre do meu pensamento. Eu sou idealista sim, mas não apoio a violência.
Eu tenho muito cuidado em falar de esquerda, de esquerdismo. Acho que estas pessoas, estes termos sofrem muito preconceito. Já disse isso antes mas eu ressalvei que o preconceito é mútuo e prejuducial. Não gosto de quem usa termos pejorativos como "pseudo-revoltados", "pseudo-intelectuais", "esquerdalóides" pois respeito demais esta visão e até a compartilho em diversos pontos - a questão é que muitas vezes, na minha opinião, as esquerdas radicais se descolam da realidade a partir do momento que se recusam à análise próxima do tema sem preconceitos políticos em nome da "revolução".
Me é nebulosa essa ocupação, invasão, como queiram. Partidos políticos por trás dos Centros Acadêmicos, dos sindicatos de trabalhadores, do Diretório Central. Sem ofensas penso se não é uma vontade enrustida de ter nascido em 1950 e ter sido jovem em maio de 68. A ocupação parece uma festa, quase é uma festa, e deveria?
Vejo até grêmios estudantis de colégios declamando apoio à tal ação. O do Equipe, foi o que eu vi, dando nome aos bois. É postivo o posicionamento mas será que houve discussão? Em que nível? Será que existe o entendimento da questão?
Mesmo os CAs. A representatividade neste ponto pra mim é usada de maneira escusa. Uma coisa séria como a ocupação deveria ser votada em assembléia em cada faculdade, instituto etc, não deveria?
"Queremos ser Che!" clamam os estudantes. Para mim uma fantasia desnecessária, inútil e fora-de-tempo. Dessa maneira somos agora vistos como bebês chorões, na minha opinião.
"É Serra? Não quer nos dar autonomia universitária? Então a gente invade a reitoria". É olho por olho? É birra, criancice. "Pegou meu brinquedo? Então eu quebro o teu, seu chato". Eu não acredito nisso. Eu acredito em discussão. Eu acredito em debate de idéias amplo. Amplo.
Há de se ouvir ambos os lados. O debate deve pairar sobre o quê? Sobre os decretos em si, suas implicações, seu texto e seus fins? Ou será que o a discussão consiste no início de uma gloriosa revolução socialista que os 300 da reitoria pretendem iniciar - vale lembrar "representando" o todo dos estudantes - e levar adiante nos moldes, por quê não, da Comuna de Paris?
Bebês-chorões sim. Não sabemos se estamos sendo manipulados, olhamos de maneira preconceituosa e queremos tudo na base da violência. Se é assim que é o movimento estudantil eu prefiro ficar do outro lado.
Enfim, a análise sempre deve ir além.