sexta-feira, janeiro 05, 2007

Bom, está tudo aí. Espero que gostem.
Colocarei agora alguns anexos, imagens na verdade, que eu acho extremamente interessantes.
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Esta é a capa do outro livro do Charbonneau que eu menciono no texto, é dele que eu tirei o excerto que encerra "Palavras de Ordem"

***Este anexo é o meu favorito. É a planta do Pavilhão do EM, ou seja, do prédio do colegial do Santa datada de 1973. É óbvio que pra quem nunca foi ao Colégio Santa Cruz isso não significa grande coisa mas creio eu que para os seus alunos é algo extremamente interessante. O original tinha letras muito pequenas, ilegíveis quase, e, quando eu digitalizei, decidi melhorar a qualidade colocando tudo direito; achei que o resultado ficou muito bom. Para obter melhor vizualização clique na imagem, ela vai ampliar-se numa página onde só ela aparece.

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Famoso pôster de "The Wall", imagem inegavelmente influenciadora e simbólica.

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Impressionante pintura de Goya.

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Por enquanto isso é tudo. Ainda estou planejando em levar este blog adiante, veremos.
Palavras de Ordem
9ª versão

Autor: Francisco Carvalho de Brito Cruz

Colaboradores: Silvia Acar, Julia Jardanovski, Thais Bohn, Marcelo Strambi e Marcio Zamboni

ilustrado por Silvia Acar e Francisco Carvalho de Brito Cruz

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Por ex-alunos recém saídos do berço Colégio Santa Cruz.

É melhor tentar do que deixar pra lá. Definitivamente é. Uma boa leitura.

0. introdução

Calma, calma...

Antes de tudo o que será explicado ser lido gostaria de colocar claros meus objetivos com tudo isso para, dessa maneira, você, leitor, entender corretamente as minhas intenções e desejos. Não pretendo gratuitamente criticar a escola, realizando assim um vandalismo literário irracional e obviamente burro pois isso nunca seria lido à sério. Não pretendo manipular ninguém. Não considero este texto uma verdade absoluta de maneira alguma.

Minha ambição com tudo isto é fazer pensar. O desejo é causar um debate saudável, necessário, genuíno e legítimo sobre a nossa comunidade, o Colégio Santa Cruz. Se sou agressivo em certos momentos? Não diria agressivo, diria incisivo. Não acho que tenha sido injusto, mas julgue por si mesmo. Só a sua leitura vai formar sua opinião, evidentemente.

1. O ontem; Projeto & discurso

Uma breve crônica da história. Dados da certidão de nascimento e do desenvolvimento do colégio durante seus quase 55 anos.

O Colégio Santa Cruz foi fundado por padres de origem canadense da Congregação de Santa Cruz em 1952. Seu primeiro prédio, na avenida Higienópolis, logo foi pequeno para a instituição que crescia rapidamente. O ensino de primeira linha para garotos da elite intelectual ganha, em 1953, seu atual espaço; um terreno de 50 mil metros quadrados no bairro quase rural de Alto de Pinheiros. No ano de 1959 chega ao Brasil o Padre Charbonneau, assim como o Curso Experimental adotado neste mesmo ano pelo colégio.

Observe a descrição de Charbonneau no website do próprio colégio:

Padre Paul-Eugène Charbonneau: Chega ao Brasil em 1959 para lecionar Filosofia no Colégio Santa Cruz. Estimadíssimo pelos alunos, transmitiu-lhes a atitude crítica, o respeito à diversidade de pensamento, o amor à vida e às coisas do espírito. De 1965 até sua morte precoce, em 1987, exerceu o cargo de vice-diretor, demarcando os princípios que sustentam a filosofia e a ação educacional do Colégio. Estudioso, arguto, polêmico, sua presença tornou-se perene através de sua obra, extensa, com títulos que abarcam questões relativas à sexualidade, drogas, adolescência, educação, Deus, casamento, ciência e política.”

Fácil de se perceber por aí a importância gigantesca desta figura no colégio. A partir de sua chegada vários eventos demonstram o desenvolvimento do popular “Santa” como instituição de ensino de vanguarda. Em 1966 a educação promovida pelos padres passa a adquirir caráter mais laico e neste mesmo ano o colégio encerra o currículo na forma de semi-internato – é o primeiro passo para maiores avanços, como, por exemplo, a abertura de matrículas para meninas, em 1974.

Desse ponto em diante a escola só cresceu e cresceu. Mesmo com a morte de Charbonneau em 1987 e a aposentadoria de Padre Corbeil – outro grande idealizador do colégio – em 1992, os preceitos inovadores de ensino estabelecidos por Charbonneau – tais como a liberdade com responsabilidade e introdução ao senso crítico aos alunos – continuaram parte da filosofia da escola. O Santa Cruz continuou sua história – os ex-alunos de todas as fases do colégio onde estudamos são nos dias de hoje parte integrante, pensante e poderosa elite brasileira – parte da classe mais alta da maior cidade do país, São Paulo.

2. O problema, o hoje

Bom... Muito bonito, muito legal... A história toda é basicamente esta. É aí que eu gostaria de começar meu raciocínio. Acompanhe-o se tiver paciência.

A sociedade brasileira certamente nunca foi socialmente justa. Não preciso aqui discorrer sobre nossa História pois todos nós já sabemos que desde as famigeradas capitanias hereditárias a renda é concentrada em um pequeno setor da população. É fato também que, apesar da gritante injustiça social, este setor mais privilegiado sempre teve seus meios de garantir sua soberania e a aclamada ordem social. Sempre o que podemos chamar de Governo Central (as autoridades da coroa portuguesa no Brasil, as autoridades imperiais, o governo republicano, o governo populista, o estado militar, a república democrática neoliberal etc) oprimiu as tentativas de subversão na ordem e na estrutura social do país. Se existiram tentativas reais? Muitas – todas fracassadas, massacradas, reprimidas pelo Governo Central. Se existiram mudanças dos grupos que estavam no poder? Existiram, claro. Revezaram-se os sujos e os mal lavados no governo que por quase toda a nossa história esmagou os mais pobres e destroçou suas oportunidades de liberdade e de igualdade.

Mas não quero discutir História. Vamos deixar isso para a Vera, para a Cláudia e para a Dedé. Eu quero discutir o colégio. O colégio e em que pontos essa mesma história do Brasil converge com os ideais do mesmo.

Desde que eu entrei no Santa disseram-me que era uma escola que formava a futura classe dominante do país, tudo isso com conceitos de igualdade, democracia e liberdade. Eu sempre achei o máximo até por que esse discurso é e sempre foi muito compatível com a história das chamadas “elites” do nosso país ao longo da História. Parecia-me lógico que uma geração numa época futura percebesse as injustiças e lutasse implacavelmente contra elas.

Talvez o meu discurso neste texto pareça aos mais velhos uma grande baboseira pseudorevoltada/rebelde-sem-causa infantil. Não descarto essa possibilidade. Talvez seja isso mesmo. Mas a grande verdade é que eu cresci e não acredito mais em Papai Noel.

O papo de formar a “elite pensante” eu engolia quando estava na sétima série – agora eu não consigo mais. Formam a elite, claro, mas pensante? Que elite é essa que o colégio formou nos seus mais de 50 anos que, tendo todo o poder que eu ouvi que tinha, não moveu um dedo para transformar realmente nosso país? Onde está essa classe dominante? Onde está a maioria dessas pessoas durante todos esses anos? Acumulando, acumulando e acumulando. Colocando seus filhos no Santa Cruz para, desta maneira, acumular, acumular e acumular.

Mas muita gente defenderia o Santa e diria que a postura do mesmo em relação à realidade é de transformador e que o colégio forma sim seres conscientes. O problema é a incoerência tremenda entre o discurso e a prática. No discurso tudo são mil maravilhas, na prática não é bem assim. Mesmo o assistencialismo do SAN não consegue fazer esta incoerência passar despercebida. As aulas de religião e ética também não.

Aliás, gostaria de perguntar: qual é a força real que a escola dá para o envolvimento dos alunos com as atividades comunitárias? Sim, o Santa Cruz tem atividades comunitárias, quase todas ligadas ao SAN, mas todas são praticadas pelos funcionários, algumas vezes pelos pais (que são mais ligados à religião) e de vez em nunca pelos alunos – as poucas vezes forçados pelo trabalho de Ética e Cidadania. Um exemplo disso é a porcentagem de alunos do Ensino Médio envolvidos com o trabalho voluntário livre promovido pela escola – de 750 alunos aproximadamente 10 exercitam tal prática, um acintoso percentual de 1,3%. A divulgação do trabalho e a motivação dos estudantes em relação a ele são ínfimas. A questão não é de maneira alguma forçar tais seres a trabalhar pela solidariedade, a por a mão na massa, é, na verdade, envolver os mesmos tornando as atividades que trazem fundos ao SAN, a Feijoada e a Festa Junina, mais próximas aos alunos. A parcela dos alunos do colegial que trabalha em tal festa é ridícula se comparada às dos outros colégios, por quê? Precisamente porque as Festas Juninas de outras instituições tem caráter mais próximo e são justamente organizadas pelos seus alunos. No Santa Cruz é assim? Não! Stands faraônicos doados, organizados e concretizados por gigantescas multinacionais dirigidas pelos grandes empresários formados pelo colégio fazem o favor de deixar o papel do aluno da escola bem claro: “gaste e torre o dinheiro de seus pais consumindo e consumindo, não queira saber pra onde vai o dinheiro, não se interesse – afinal, toda caridade é caridade, apenas gaste!”. É esse o papel que deveríamos desempenhar?

A elite que sai daqui não está nem aí para os problemas reais de nosso país. É claro que existem exceções, mas estas estão aqui pois acreditam na mentira de que o colégio formará o senso crítico nos alunos.

Senso crítico? Piada. Que tipo de senso crítico é esse que mais da metade dos alunos sai do terceiro ano do EM votando no mesmo candidato que os pais querem? O que reina no Santa é o conformismo frente à situação do planeta. A elite atual se volta para os valores idiotas e rotuladores do consumo enlatado da sociedade capitalista. Nada realmente importa, só o acúmulo – só a fachada – só o aparente para se mostrar.

Cultura? Faz-me-rir também. É sim fato que o colégio tem um teatro de primeiríssima linha dentro de seu terreno; mas quando a programação do teatro é colocada para os alunos? Quando estes podem ter desconto num espaço cultural construído a custo das mensalidades? De vez em nunca, não é?

A abertura da nova unidade do Santa Cruz é o símbolo da distorção feita na singela e brilhante obra pedagógica de Charbonneau e seus colegas. O Santa Cruz bilíngüe é a capitalização do nome do colégio e seu feitio é praticamente um manual: “Como destruir uma boa idéia para o país em alguns passos”. E é esse o livro prático que a elite que saiu daqui quer para si. Por que a unidade bilíngüe tem o mesmo nome do Santa Cruz se nem o mesmo currículo, a mesma proposta, ela tem? Capitalizar a marca Santa Cruz? Que iniqüidade dizer isto. Os jovens formados por esta agirão como perante a realidade brasileira? Não seria esta uma manobra da elite santa-cruzense para ampliar seu glamour? Por quê falar inglês? Vamos entrar na economia globalizada como cordeirinhos acumuladores? Estas perguntas podem parecer absurdas mas indago eu a quem acha tais especulações sem valor, inúteis: quantos pagariam o triplo para o filho formar-se no Colégio Santa Cruz? Por quê? Todas estas pessoas estão realmente interessadas que seus filhos tenham senso crítico e possam repensar a realidade que vivem? A resposta é sua.

É interessante perceber o ciclo fechado, a retro-alimentação, que os ex-alunos promovem quando matriculam seus filhos nesta escola que irão, por sua vez, matricular os seus filhos por aqui. Por quê? Será por que o colégio “forma uma elite pensante” ou será por que tal família mostrará seu status social tendo o filho da marca Santa Cruz? Eu percebo a segunda hipótese bem mais sólida e acredito nela assim como vejo a hipocrisia na fala destes pais que realmente nada fizeram contra a situação de extrema miséria e pobreza que muitas pessoas vivem aqui no Brasil.

Voltando à História do nosso país – nada mais natural que um colégio como este. Fingir-se preocupado com os problemas... açucarar o discurso... mas... quando você vai e analisa o final da linha de produção... Seres que agem? Não. Seres conscientes e com a mente cheia de preceitos de igualdade social e justiça? Não. Máquinas de fazer dinheiro (é evidente que existem exceções, se não existissem o Santa Cruz já devia ter mudado de nome, pois não seria nada, nada, o que Charbonneau e seus colegas pensaram).

Eu fico pensando se os pais que colocam seus filhos aqui pensam nisso. Acho que pensam. Pensam em tudo que eu falei. Ou melhor, não. Ah. Não faço a mínima idéia.

Acho que esse texto está muito metralhadora demais. Eu saí atacando a tudo e a todos mas acho isso justificável. Todo um dogma que eu tinha sobre o colégio ruiu nos meus últimos dias nele. Triste. Até por que percebo que as únicas pessoas que se importam com isso não somos nós, os alunos, não é a direção (ou Deus, porque só existe e aparece se você acreditar nela ou cometer algum pecado, infração), não são os pais: são os nossos professores. Mas qual força eles tem frente a um dragão enorme cuspidor de fogo – o Vestibular – e seus filhotes ainda mais temíveis – as pressões dos pais, que são, coincidentemente, clientes do próprio colégio.

Ainda que o Santa fosse um colégio público o diálogo que eu proponho seria possível, mas não é. A escola ser privada acarreta diversos tipos de pressões de seus clientes, os pais – pais estes de uma camada muito “especial” da população, camada esta que não visa o desenvolvimento do Brasil de forma equivalente e justa – ou seja, se o Santa fosse uma escola pública os pais não seriam clientes e não seriam somente de um segmento social da sociedade brasileira, logo, as suas pressões e anseios seriam diferentes, totalmente diferentes. “Mas o colégio não tem fins lucrativos!”. É, mas os pais que colocam seus filhos lá têm sim fins lucrativos.

A Santíssima Trindade se fecha aqui no Santa Cruz. Direção, pais e alunos conformados são a receita certa para a fábrica de falsos burgueses conscientes, na verdade esfaqueadores do sonho do Brasil mais justo. Mas a direção... a direção me intriga. Ela simplesmente não aparece! Você sabia que o colégio tem um consultor de Orientação Educacional mas que este nunca, nunca, tentou entrar em contato com os alunos, seus orientados? Você sabia que a escola mantém um Conselho Administrativo do qual fazem parte importantes intelectuais brasileiros e membros da classe mais alta do país como donos e presidentes de importantes bancos? Aposto que não. Mas também o que interessa, não é, aluno? Não interessa saber aonde realmente você estuda.

O que interessa é a roupa que você vai à próxima festa, não é? O que interessa é que a Mari ficou com o Bruninho, não é mesmo? Dane-se o nosso país, queremos é ficar no mundo virtual do Orkut e do MSN. Parece mais bonito mesmo, parece mais divertido mesmo. É mais legal viver no bonito e no divertido do que no triste e no preto e branco – mas esta é a realidade. Realidade? Então a desprezem se forem capazes. Vivam este mundo sabor tutti-frutti e, quando mais velhos, ganhem seus milhões e coloquem seus filhos no Santa para eles terem justamente a mesma adolescência recheada de boas lembranças; das viagens à Praia da Baleia às festinhas cheias de bebida alcoólica onde vocês brincavam, se divertiam e consumiam fazendo assim rodar e rodar a antiga mas nunca velha engrenagem do nosso amado capitalismo, que tem como conseqüência tanta justiça social e igualdade.

É fato que tudo isso aqui descrito não é exclusivo do Santa Cruz e tem gente que me diz para tomar isto como consolo. O deserto de significados reais, verdadeiros, de ideologia genuína, de espírito crítico atuante no atual pós-modernismo cerca nossa existência. Penso que os poucos que ainda seguram o estandarte de algum ideal, mesmo que mínimo, são dignos de respeito. É muito fácil seguir a corrente, a massa; é muito fácil achar babaca este texto e correr para nossos condomínios fechados, nossas bolhas acopladas, e lá existir; e lá conectar-se à infovia débil mental para sempre. Viver etiquetado: “Fiz Santa Cruz” – emprego garantido, dinheiro na mão, e, numa infeliz maioria das vezes, um nunca dito mas sempre pensado “to nem aí” para tudo o que ocorre na cruel realidade brasileira.

Eu não conheci o Padre Paul-Eugène Charbonneau mas acho que este certamente não compactuaria com tanta distorção dos seus ideais, com tanta conformidade e com tanto conservadorismo. Idéias maquiadas de ensino moderno e humanista. Praticamente uma máquina, uma fábrica de uma burguesia hipócrita com uma fachada bonitinha, que formará grandes acumuladores e concentradores de capital conformados com a crueldade da aberração chamada “realidade brasileira”. Todos eles vestidos de camiseta amarela com o plátano azul estampado, a grande maioria dizendo que se importa com tudo isso mas realmente só se importando com o consumo, com os valores da sociedade capitalista burguesa e com a diversão efêmera alimentada por estes.
3. A Arquitetura da destruição

A forma segue a função. E como segue.

Certamente é sempre dificílimo discutir arquitetura, principalmente entre leigos. O gosto pessoal imprimido nas opiniões as deixam superficiais e pouco analíticas e a cultura do bonito e feio dificulta uma análise mais detalhada de uma construção, de uma obra.

Também não venho aqui fazer um tratado de arquitetura, até por que não sou formado nessa arte. As linhas gerais de meu raciocínio seguem uma postura relativamente neutra(em relação a gosto pessoal) de relatar e observar criticamente os fatos ocorridos com o Santa Cruz físico – este que todos nós vemos e sentimos todos os dias.

O edifício original do colégio, este que estudamos, o colegial, foi projetado na década de 50 pelo arquiteto carioca Roberto José Goulart Tibau. Falecido recentemente com 79 anos, o artista desenvolveu ao longo de sua vida uma trajetória extremamente expressiva dentro do cenário da arquitetura modernista brasileira. Sua carreira foi permeada por projetos de cunho educacional, tanto público como privado, e foi guiada pela chamada “Escola Carioca”, vertente esta que trazia todos os preceitos que cabiam naquele novo colégio: inovação, vanguarda, modernidade e consciência. O resultado foi o prédio onde estudamos.

Muita gente pensa que arquitetura é uma escultura sem significado interpretativo onde por acaso passamos toda a nossa vida dentro – uma mera representação estética com valor superficial. Não é. O espaço age sobre a sociedade e esta molda o espaço como mais lhe convém. No famoso, porém antigo, filme “The Fountainhead” o professor de arquitetura diz ao seu pupilo, já quase morrendo na ambulância numa cena antológica em que os prédios passavam rapidamente ao fundo: “lembre-se, a forma sempre segue a função”. Esta máxima, reparo, nunca deixa de ser verdadeira pois até um edifício que pretende ser outra coisa, tem a forma tentando imitar outra função, adquiri justamente uma função de imitador, de mimetismo.

Passemos então tal máxima do professor ao prédio do Ensino Médio, o chamado Pavilhão Colegial (ou do EM), onde também se localiza a Direção Geral do colégio. Observemos o Pavilhão Paulista (biblioteca e CEI), o “Canadá” (classes do Ensino Fundamental), o Pavilhão Henri Borden (ou do EF). As suas formas tem funções? Seus detalhes têm anseios, preocupações? Um por um cada elemento que compõe o todo tem sim seu papel, tem sim seu lugar na construção – não só a material, a estética, a física, mas também a construção pedagógica dos alunos.

Vocês acham que tudo isso é uma “viagem”? Responda-me então, caro leitor, se realmente para você a ponte, as rampas e o pátio interno do colegial são mera decoração. Nossa! Mas que coincidência esse espaço se ajustar perfeitamente para eventos como os shows no recreio e o carnaval do terceiro ano mesmo depois de cinco décadas passadas de sua construção. Mas que coincidência o corredor onde ficam as salas dos diretores do colégio ter aquela esfera que pede discrição, respeito e silêncio pois qualquer sussurro pode ecoar pelas pedras e ser ouvido por ouvidos dos poderosos. Que coisa curiosa o colégio ter tanto verde, gramados e estes servirem justamente para os alunos despretensiosamente sentarem e aproveitarem a tranqüilidade da natureza! Mas porquê será que o sol é elemento sempre presente nas salas de aula? Qual o motivo de tantos campos e quadras?

Pasmem, tudo é planejado. Tibau em sua obra pensou sim nas rampas, nos pátios, nos gramados, nas escadas e na ponte. A forma moderna, a forma que todos vocês conhecem, serve perfeitamente à função de escola de vanguarda, de escola moderna, de instituição fora dos padrões normalmente rígidos de disciplina. A fachada ampla, horizontal e paralela apresentada, por exemplo, no Pavilhão do Ensino Médio denota e ajuda a passar como que o Colégio Santa Cruz foi planejado. É fácil perceber a diferença entra uma arquitetura de uma escola ditadora, rígida e conservadora e a arquitetura de Tibau concretizada no edifício santa-cruzense sobre o qual falamos. A diferença entre um frio pátio de pedra vigiado por câmeras, bedéis e pela diretoria da escola e um outro em simbiose com um jardim florido e livre das amarras da rigidez acadêmica doentia se não é gritante é, pelo menos, evidente.

Prova mais do que explícita de todos estes argumentos são as próprias palavras de Charbonneau. Em seu livro A Escola Moderna – Uma Experiência Brasileira: O Colégio Santa Cruz[1]o padre disserta exatamente sobre este assunto, dedicando à este um tópico na sua descrição do colégio. A escola: As estruturas físicas[2] evidencia a preocupação dos fundadores com a arquitetura da escola. O autor ressalta a importância de praticamente todos os fatores que compõe o Santa que temos hoje: o sol[3], a natureza[4] e a própria sensação de liberdade[5]. O que já é claro e concreto nas vigas, janelas e paredes do nosso colégio projetadas por Tibau é nessa obra escancarado por Charbonneau. A análise é concisa e vai direto ao ponto – antes a escola era opressora, fria e severa, de desenho rígido; agora não. O Santa Cruz deve inaugurar a escola como sendo um ambiente antagônico à “este ambiente que só podia suscitar uma repugnância natural e, em conseqüência, muitos entraves psicológicos”. A escola, como diz o padre citando Gerard Vincent, deve ser a “segunda casa dos meninos”.

Mas nem tudo é maravilhoso no Santa Cruz, como venho dizendo neste texto. Há algo de podre no Reino da Dinamarca. A burguesia que quer seu filho com a marca “Santa”, a grife da camiseta amarela, e as pressões que esta mesmo faz pelos pais pertencentes a ela começa a mudar a função do colégio. Todo o tipo de alteração e de decadência dessa função vai – Inexplicavelmente! – modificar a forma do colégio.

O bizarro toldo de plástico na frentes das janelas das classes do terceiro ano e acima da cantina. A cimentação de gramados. A colocação de grades inexplicáveis. A cobertura plástica que avança sobre o sol dos terrenos do Ensino Fundamental. Tantas medidas podem exemplificar a modificação, ainda prematura, da forma física do colégio. É incrível como inacreditavelmente o toldo impede a visão do pátio e do sol e ,portanto, a distração com a atividade externa, com o ar livre. É espantoso que (óbvio que ninguém pensou nisso) a impermeabilização de áreas gramadas impede os alunos de se aproveitarem das áreas verdes do Santa Cruz – praticamente uma marca registrada de seu nome. Mas que engraçado que as grades colocadas sem explicação limitam o espaço dos alunos à justamente as áreas cimentadas e que as mesmas impedem a entrada dos estudantes em espaços dos mais variados possíveis. Curioso? Factual.

A verdade é esta: a decadência da obra de arquitetura de vanguarda feita para um colégio de vanguarda. O fortalecimento de idéias e de valores de certa maneira conservadores na parte do ideário fixo e concreto do Santa Cruz. A verdade é a crescente contradição entre o que Charbonneau dizia que o colégio deveria ser e o que ele está se tornando. A incoerência das linhas modernas – anseio de liberdade – de Tibau e dos cimentos, asfaltos, grades e inexplicáveis toldos que surgem do nada. A escola “cercada de asfalto e esmagada, de todo o lado, por outros edifícios” negada pelo padre surge e a comunidade, inacreditavelmente, acompanha calada.

E, enquanto isso, o escritório UNA, composto por jovens arquitetos talentosos, que vira e mexe está na mídia, nos jornais, e que parece fazer esforço para isso, concretiza e finaliza o projeto arquitetônico da Unidade II do Colégio Santa Cruz no Butantã, a famigerada e discutida Unidade Bilíngüe. As linhas modernosas conseguem maquiar a arquitetura modista ou só a explicitam? É melhor parar – vou acabar entrando no território gosto-não-gosto.



[1] CHARBONNEAU, Paul-Eugène (1925-1987); A escola moderna, uma experiência brasileira: O Colégio Santa Cruz. São Paulo, EPU, 1973.

[2] Pág. 37-40

[3] (...) É fenômeno conhecido que o sol gera alegria.(...) – pág. 39

[4] (...) Uma escola, cercada de asfalto e esmagada, de todo o lado, por outros edifícios, que formam uma floresta de pedras e cimento, toma o aspecto de jaula. Que de seu lugar, no meio da sala de aula, o menino possa sentir o perfume de um oásis verde e repousar a vista na multiplicidade multicolor das flores de um jardim, é um fator que pesa. (...) – pág. 39

[5] (...) Não se pode definir melhor a escola: a segunda casa dos meninos: Para isto é preciso que ela tenha dimensões humanas e irradie certo calor; que seja atraente no sentido próprio do termo, isto é, que atraia o estudante de modo que ele venha para ela com alegria; que ela seja organizada de maneira a dar uma sensação de liberdade, e que nela ninguém se sinta comprimido e privado de toda mobilidade. (...) – pág 38

4. Comentários sobre uma realidade decadente

Qual é o contato que você tem com a direção? Leia e descubra algumas posturas surpreendentes.

Sei que já abordei o assunto “direção intocável” mas ele é necessariamente recorrente devido ao fato da direção ser justamente a instância máxima de macro-decisões do colégio, de poder. Sei também que já comentei mas vale lembrar as condições quase divinas da mesma, que, como profere o ditado: “você precisa acreditar para eles existirem, tenha fé!”. A verdade já está escancarada no brado dos alunos que manifestam um distanciamento entre esses setores de nossa escola.

Em busca de um contato, mesmo que indireto, com a direção observo no Plano Diretor 2006 uma seção chamada “Palavra do Diretor”. Nesta espécie de capítulo do edito, Luís Eduardo Cerqueira Magalhães expressa suas idéias (que sintetizam as idéias do corpo diretivo) e suas perspectivas em relação ao colégio, assim como os projetos futuros e a implantação de novas medidas. Neste ano o assunto que norteou a “Palavra do Diretor” foi a nova organização serial que irá ser inaugurada pelo colégio na qual o Ensino Fundamental passará de 8 para 9 anos. A nova organização prevista por uma recente lei evidentemente será também adotada aqui no colégio. Atente não ao fato dos 8 anos de Ensino Fundamental agora serem 9 e sim às justificativas as quais nossa direção recorreu para justificar o fato e elogiar tal medida.

As opiniões colocadas por Magalhães neste texto são bastante explícitas. Seguem aqui alguns excertos numerados, os quais analisarei após apresentados seguindo sua numeração.

Trechos:

I. Em complemento a esses dados relativos à organização serial, há um argumento mais afeito à área da psicologia e filosofia educacional. Os especialistas confirmam a dificuldade atual, cada vez mais acentuada, de se conseguir que os adolescentes estejam tão maduros do ponto de vista psicossocial — vale dizer, de sua autonomia responsável, do seu compromisso com os projetos presentes e a perspectiva de futuro — quanto do ponto de vista do potencial cognitivo e da busca por experiências mais adultas. A “imaturidade contemporânea”, ou a “adolescência prolongada”, torna complexa, por exemplo, a abordagem de temas sociais e existenciais e a proposta de debates e leituras sobre política, especialmente a partir da puberdade.”

II. “A violência, a fragilidade dos valores da sociedade urbana e a reorganização familiar contemporânea nos incitam, como educadores e como pais, ao abraço, à proteção e, de certo modo, ao adiamento dessa autonomia que, nas gerações anteriores, de 70 até meados de 80, era muito mais precoce. Não é possível nem sensato forçar a “idade da razão” com um súbito abandono. Estender um pouco mais a permanência dos alunos na escola, com um trabalho educativo intensamente voltado para o projeto da autonomia responsável, talvez seja o caminho mais promissor. Paralelamente a essa questão, é preciso atentar para a forma como se tem operado o ingresso de nossos alunos no curso superior. Temos avaliado que a opção profissional por meio da universidade se revela, para muitos, insegura, contingencial, precária. O retorno dos jovens ao colégio depois do ingresso na faculdade mescla orgulho pela conquista e nostalgia da segurança anterior. A liberdade desejada e adulta da universidade por vezes tem sabor de desamparo e despreparo para as decisões.”

III. “Uma circunstância de outra ordem se alinha às anteriores. Em setembro passado, fomos impedidos de realizar a segunda parte do teste de seleção para a 1ª série na data prevista. Enquanto esse processo ficou pendente, porque uma parte do teste já havia sido aplicada, pudemos viver, com os pais e as crianças, o desgaste e a tensão causadas pelo futuro incerto. O teste para a 1ª série sempre foi uma ação importante, por ultrapassar o aspecto da avaliação pedagógica e incluir uma dimensão ideológica. Se o Colégio Santa Cruz se limita a receber filhos de ex-alunos e irmãos de alunos, a tendência é o fechamento em uma comunidade pouco permeável às transformações, com restrito conhecimento de outras famílias e experiências. O ingresso de crianças na 1ª série — na 5ª série a seleção é muito restrita — reorganiza e revivifica a comunidade do Santa Cruz. Novos pais, diferentes pré-escolas e experiências nos enriquecem, além de favorecer famílias que nunca estudaram aqui e têm o direito de fazer escolhas fora do seu circuito e de sua história anterior.

Desse modo, a proibição do teste — fundada nos argumentos de que crianças com sete anos não podem ser submetidas a um processo de seleção, porque isso é extremamente traumático, e a matrícula por mérito é discriminatória — fecha a possibilidade de disponibilizar as vagas a crianças de fora.

Enquanto se mantinha em aberto a resolução legal, a direção do Colégio precisou levar em conta essa nova realidade e tomar decisões. A suspensão do teste colaborou para a antecipação da implantação do novo sistema: abrimos mais classes nas séries da Educação Infantil e adiamos a recepção de novos alunos para as séries intermediárias do Fundamental 1, quando o processo seletivo não seria considerado “traumático”.”

Comentários:

I.

O nosso diretor aborda neste trecho uma justificativa pedagógica para a nova organização serial. O interessante é como ele nos vê despreparados em relação ao passado e como indica a “recente” (assim ele a descreve) dificuldade de se conseguir que os adolescentes estejam tão maduros do ponto de vista “psicossocial” quanto do ponto de vista da busca de experiências adultas. Admito sim que interpreto tal texto, mas me parece óbvia a colocação do jovem moderno, do aluno do Santa Cruz, como crescente incapaz alienado que não deve de maneira alguma entrar em conflito com o conceito oposto. A falta de confiança na capacidade deste jovem e o conformismo de que a puberdade o impossibilita de vivenciar momentos de discussão política e social povoa o pensamento contido neste excerto e liga-se justamente à idéia do aluno conformista e intocado pelo conflito político ou pelo idealismo. É o exemplo da conivência da direção com esta situação?

Pode ser dito que de fato o jovem de hoje é assim e que Magalhães simplesmente descreve uma realidade. O jovem de hoje pode sim ter este perfil, mas ele tem as mesmas potencialidades em todos os aspectos de um jovem de qualquer época. O que falta é avivar tais potencialidades e transformá-las em realidade.

II.

Observa-se aqui uma postura clássica da sinestesia entre os anseios e desejos dos pais e os mesmos da Direção Geral. Essa atitude de suposta proteção ao invés do contato com a realidade e de citar a “violência, a fragilidade dos valores da sociedade urbana e a reorganização familiar contemporânea” abre um espaço gigantesco para um conseqüente conservadorismo e pragmatização, destruição do idealismo de Charbonneau e dos padres fundadores. É o discurso que continua insistindo na falta de capacidade, responsabilidade e de visão do jovem de hoje em relação ao de ontem. Adiamento da autonomia? Por que?

Essa parte exemplifica, mesmo que sutilmente, exatamente o que a Direção acha e pretende do aluno do Santa Cruz: um conformado, sem autonomia, sem ideologia própria, um burguês sem consciência que visará o acúmulo e a concentração de capital durante a sua vida – perpetuando assim os problemas de uma realidade que este “entrou em contato”. Protegendo-o da realidade sombria do modo predatório, projetista e anacrônico dos pais a escola criará então produtos perfeitos para a retro-alimentação santa-cruzense tão querida. Este estudante só estará preparado para um mundo – o perfeito, o que ele vive recluso, feliz e se divertindo, a bolha, a realidade cor-de-rosa. E como ele agirá perante a realidade de verdade. A marrom, a cheia de defeitos? Este é o ponto. Agirá?

III.

Na verdade escolhi este excerto somente por uma palavra. O autor reconta e disserta a respeito da polêmica dos testes da primeira série, proibidos de serem realizados por decisão judicial – no caso pelo Poder Judiciário considerar traumática a experiência de competição acirrada presente no famigerado teste. A palavra, na verdade os sinais de pontuação colocados neste vocábulo, que me deixaram abismado são as aspas usadas em traumático, na última palavra do trecho.

Não quero discutir pedagogicamente tal atitude e nem colocar minha opinião sobre o assunto mas a ironia sutil e inacreditavelmente cruel que chega junto com as aspas é inegável e espantosa. Sendo ou não traumática a experiência a tentativa do nosso diretor de ridicularizar o ponto de vista oposto ao seu (que defende os testes) é, se não é desastrosa, extremamente atroz e agressiva.

Indigno-me não pela postura adotada por ele em relação ao teste pois de certa maneira esta é sua opinião e acho que cabe um debate mais amplo sobre isso. Minha indignação volta-se às aspas. As cruéis aspas que ridicularizam a possibilidade de uma criança de 6 anos sofrer uma provação traumática durante um teste que verdadeiramente é concorridíssimo. A criança não pode nem se defender, o debate não precisa nem ocorrer? Para o autor seria esta opinião supérflua, a discussão, de certa maneira, desprezível?

Bom, se para a Diretoria de uma escola que preza o diálogo um debate educacional desse porte é pouco evidente ou detém um valor insignificante a ponto de ser ironizado algo estranho sim acontece aqui no Santa Cruz. A ironia não precisou ser planejada e pode até ser negada, mas que ela existe, existe.

Talvez realmente essa posição cruel não seja a real posição do autor. Acho verdadeiramente difícil nosso diretor não se importar com as crianças – o fato, porém, é que as aspas estão colocadas e seu sentido (obviamente não explicitado) pode ser interpretado de qualquer maneira, como, por exemplo, essa posição bastante sarcástica, moderando a linguagem.

***

Pensei muito se o recorte feito por mim poderia se mostrar tendencioso, panfletário. Li e reli o texto e, talvez cego pela minha avidez por significados, não pensei que tenha cometido tal deslize. Se você leitor tem dúvida das palavras da nossa diretoria, se você acha que realmente posso estar sendo leviano em meu recorte é fácil descobrir se estou. Plano Diretor de 2006, A Palavra do Diretor, páginas de 5 a 8.

5. O Amanhã


“Amanhã vai ser outro dia”[1]

“Vou cobrar com juros. Juro!”[2]

“We don’t need no education”[3]

“It’s only Teenage Wasteland”[4]

O Colégio Santa Cruz ainda preserva muita coisa de bom. É difícil se destruir uma construção sólida como a engendrada pelos padres fundadores no passado como a nossa escola. O aluno santa-cruzense que busca no corpo letivo uma luz, um guia para iniciar uma viagem de compreensão da realidade, acha – até por que já disse que talvez o único segmento que realmente siga a sombra do passado é o segmento que inclui os professores. Porém, o quadro só tende a piorar. A pressão é forte e o número de alunos que buscam essa luz diminui cada vez mais, fazendo assim os nossos mestres se distanciarem cada vez mais dessa tão dita ótica de vanguarda.

Admito que sou bastante pessimista. Mas, em contrapartida, penso que existe, mesmo que remota, a possibilidade de sair alguma coisa dos próprios alunos e sonho com a engrenagem parando e começando a rodar no sentido contrário destruindo toda a linha de produção preparada por tantos anos.

Esse sonho meu é na verdade o sonho de estudantes de todas as épocas. Mil novecentos e sessenta e oito, por exemplo. Não sou sessenta-e-oitista. O meu pessimismo me impede de acreditar nessa mudança tão radical.

Na verdade penso também sobre o que adianta escrever sobre tudo isso. Se um dia eu pudesse conhecer tal Conselho Administrativo... Tenho pena dos pequenos monstrinhos que estão sendo formados. Vamos todos bater palmas à futura elite do país. É uma ótima elite. Representa bem o nosso futuro. Nosso futuro negro. Nosso futuro de exploradores.

Digo que não compactuarei com isso, o problema é que, como disse um amigo meu, eu quero a melhor educação para os meus filhos. O Santa Cruz ainda é um dos melhores colégios do Brasil. Ainda.

Peço aos leitores para atentarem os aspectos aqui destacados. Certeza eu tenho de que tudo o que eu falo não é completamente certo. Talvez tenha escrito aqui somente um saco de polêmicas. Acho, porém, que a importância das polêmicas é a discussão causada por elas. Vamos discutir!

Se você quer saber os nomes do Conselho Administrativo? Quer o nome do tal Consultor de Orientação Educacional do EM? Gostaria de saber os nomes das divindades, espíritos, curupiras, caiporas, boitatás e lobisomens que, supostamente, fazem parte da nossa comunidade? Isso é fácil. Tem no Plano Diretor. Ah, você não tem o Plano Diretor? Dá um pulo na Secretaria Geral e peça já o seu, é de graça.

Por último somente um adendo derradeiro. Eu não colocarei bombas na escola, como já provocou um amigo. Aliás, colocarei sim, somente as ideológicas. Ah! E de maneira nenhuma pretendo, como disse esse mesmo amigo, lutar boxe com o Luís Eduardo. Perderia com toda a certeza. Talvez um dia ele possa ler este texto. Espero que não fique chateado. A opinião é minha e eu a assumo, bem como meus colaboradores. Nada é pessoal. Que ele ouça este grito de uma fração de seus alunos, desta juventude que concorda com pelo menos alguns pontos colocados aqui. Esperamos que nossa ação, que nossas idéias, sejam levadas em conta, e que talvez, num futuro, colocadas em prática, modificando assim, nossa realidade.


[1] Chico Buarque de Hollanda (curiosamente ex-aluno do Santa) em Apesar de Você.

[2] Chico Buarque de Hollanda, mesma música.

[3] Da canção Another Brick on the Wall – Part II, do album The Wall(1979) do Pink Floyd, composta por Roger Waters.

[4] Da canção Baba O’Riley (The Who), composta por Peter Townshed.

6. Juventude & contemporaneidade: O nosso papel


Palavras póstumas de um sábio.

Em seguida gostaria de encerrar nossa conversa com um texto de um personagem que muito citei aqui: o Padre Charbonneau. Em um pequeno livro de sua autoria, Pais e filhos – diálogo sobre o amor[1], o religioso tem uma passagem que muito sintetiza nosso papel; papel de jovens, papel de estudantes, função de questionadores da nossa realidade. Despeço-me com as palavras[2] deste sábio brilhante.

“Cada um deve se convencer que está na terra, na vida, não para se divertir mas para compreender. Está na terra para construir a terra, a fim de que o homem possa desabrochar em todas as dimensões e consiga abraçar o absoluto.

Leon Bloy, este grande romancista do início do século, profeta e visionário deste mundo, dizia que o homem é o peregrino do absoluto. Os jovens, ou serão peregrinos do absoluto, ou serão peregrinos do absurdo. Não tem outra saída, não poderão ser uma geração medíocre; servirão ou ao Absurdo ou ao Absoluto. Se abraçarem o Absoluto, reconstruirão uma humanidade esplêndida; viver, então, será uma alegria, uma realização, pois todos os homens saberão o “porquê” de sua vida.

A existência tem sentido; mas, seu sentido precisa ser conquistado. Conquistar, descobrir o sentido de viver é a única tarefa dos jovens. Ao descobri-lo, encontrarão o novo entusiasmo (do grego: en-théos, isto é, Deus), e passarão a reconstruir o mundo. Acredito na fé desta esplêndida mocidade, que capaz de superar o Absurdo, quando este está à sua frente e de ir à procura do Absoluto.”


[1] CHARBONNEAU, Paul-Eugène (1925-1987); Pais e filhos – diálogo sobre o amor. São Paulo, Editora Herder, 1968.

[2] Trecho extraído do capítulo Juventude e Mundo Contemporâneo, págs. 47 e 48.

Ontem

Carlos Drummond de Andrade em “A rosa do povo”


Até hoje perplexo

ante o que murchou

e não eram pétalas.


De como este banco

não reteve forma,

cor ou lembrança.


Nem esta árvore

balança o galho

que balançava.


Tudo foi breve

e definitivo.

Eis está gravado


não no ar, em mim,

que por minha vez

escrevo, dissipo.

Produzido, escrito e ilustrado por ex-alunos do Colégio Santa Cruz


Saudações a todos.

Começando pelo começo a idéia de criar esse blog foi para, fundamentalmente, democratizar o acesso ao texto "Palavras de ordem", indagação conduzida por mim mas lapidada por diversos incríveis colaboradores sobre o meu, o nosso, colégio, o Santa Cruz.
A "internetização" deste texto simboliza a possibilidade de difusão da sua idéia, o que eu acho extremamente importante, e, bom, mal não fará? Acho. Enfim, esta não é a intenção.
Não preciso aqui ficar pregando o espírito crítico genuíno, o inconformismo etc, não preciso, isso já está escrito no texto. Alerto que existe a possibilidade de reflexão pós-leitura, reflexão muitas vezes recheada de autocrítica e chateação: "Puxa, tudo isso aí, e eu nunca fiz nada.". Se pensa assim pensa errado. Fez sim. Leu. E já não é uma grande coisa? Pessoalmente penso que é.

O formato que eu vou arrumar para o texto aqui é o seguinte: de trás para frente, ou seja, começarei a postar pela contracapa e em seguida, na mesma hora, irei postando separadamente cada "capítulo", e, por último, a capa - mas por quê? - simplesmente pelo motivo de, quando o blog for acessado os últimos textos serão sempre os mais antigos, ou seja, logo quando eu posto algo esta coisa passa ser a primeira da coluna, e, como eu não quero isso, não quero que fique tudo invertido, invertido tudo farei eu. Nossa, talvez este parágrafo tenha ficado muito confuso.

O meu desejo com tudo isso é sintetizado por muitas frases sendo as mais significativas de todas são as seguintes:

Estrofe de "Won't Get Fooled Again", música do The Who, composição de Pete Townshed

We'll be fighting in the streets
With our children at our feet
And the MORALS that they worshipED will be gone
And the men who spurred us on
Sit in judgment of all wrong
HE DECIDES and the shotgun sings the song
Muito obrigado, boa reflexão.

Chico.