quinta-feira, abril 12, 2007

2.
Só digo, antes de apresentar o texto seguinte que ele é um discurso. Não é um manifesto, um ensaio ou qualquer outra coisa. É feito para ser lido com expressão pois é assim que o imagino. Os vaivens deste são retóricos e extremamente orais e por isso peço-lhes compreensão – não consegui formular estas idéias em especial de alguma outra forma. Além disso ressalto o caráter pessoal e emotivo do texto; ele tem muito de mim e de meus sentimentos mais íntimos, confissões.

Desejo uma boa leitura à todos.

De fato sou idealista

Deparo-me com uma delicada situação em minha vida, confesso. Pode à primeira vista parecer algo pessoal demais para ser apresentado neste espaço mas creio eu que o assunto tem infinitas ligações com tudo o que já falei sobre o colégio que estudei, com a minha modesta e ainda embrionária visão da juventude e do mundo pós-moderno. Este assunto tange muito tudo o que já escrevi e talvez o que eu estou para dizer facilite o entendimento de muitas coisas incluindo minha intenção real com tudo isso, com todo esse falatório que ultimamente varia pouco de foco.

Fui questionado por meu pai sobre a utilidade disso tudo, uma verdadeira avalanche de perguntas. Sobre o fato de eu já ter passado essa fase, o colégio. Falar para mudar? E quem sou eu para falar? Qual é o meu canal com esta instituição? Não deveria este jovem universitário interessar-se mais pelo seu novo ambiente? O que de concreto posso mudar com minhas idéias e com minhas ações? Eu não tenho institucionalizado qualquer papel que me efetive para começar um debate sobre estes assuntos nessa escola. Se eu quiser conversar, transformar, eu vou aonde? Um adolescente, mero idealista inseguro que não quer tomar atitudes sobre sua vida e que se prende a algo que lhe dá segurança e disso não larga.

E devo dizer, por mais que dizer isto seja colocar este desabafo num tom mais empolado, que estas indagações tocaram no âmago de toda esta discussão. Os porquês de tudo isto. Por que faço o que faço? Que poder acho que tenho? Eu me proponho agora a responder estas questões e colocar diversas idéias sobre elas que julgo necessárias.

Devo começar pelo começo, pelas questões mais elementares. Tenho antes de realizar reflexões mais profundas afirmar minha posição frente à elas, acho que para por em pratos limpos minha discussão e para dizer a que eu estou realmente me incentivando à defender; devo falar que tese defendo. Eu não acho que o que fiz foi em vão e discordo de todas essas questões e afirmações. Afirmo isto assim de maneira categórica para deixar bem claro meu ponto de vista.

Sim, passei pelo colégio mesmo. Passei no vestibular e disto não escondo que sinto orgulho e agradeço a educação que me foi passada. Agradeço que de alguma forma fui ensinado a questionar coisas, a criticar coisas. Talvez demais. Criticar e questionar até mesmo a própria educação e é isso que venho fazendo. Se a crítica não cessa isso é de alguma forma culpa de muito mais que de uma insegurança e de uma volta à um colo escolar – isso é culpa de uma busca por respostas e principalmente por conhecimento e valores.

Essa “busca” é decerto um conceito interessante por que tange uma idéia que gostaria muito de tratar que é o idealismo. Admito uma certa dogmaticidade minha quanto à isso mas fico inquieto com a atitude passiva frente à idéia desta busca. Inflamo-me muitas vezes defendendo a idéia de que se você acha que as coisas não deveriam ser como são deve parar de reclamar e pensar num jeito de transformá-las e penso isso de verdade. Defendo o idealismo e sou idealista e aceito quase toda a explicação “senso comum” do porquê sê-lo. Digo quase por que em uma parte penso diferente e acho que esta parte não é descartável ao entendimento do meu pensamento. O idealista é, segundo o clichê, aquele que cegamente busca seus ideais, alveja transformar a realidade pensada numa outra, num modelo muita vezes impossível que tem em sua mente – conceito que muitas vezes se aproxima da idéia de utopia.

Eu destaquei um palavra na definição que fiz de idealismo “clichê” pois é desta que discordo. Não acho que o idealismo de “Palavras de Ordem”, tanto o blog como o texto e admitindo minhas idéias intra-mentes nunca ditas à ninguém, seja cego, seja desprovido de visão crítica sobre si mesmo. Em muitos momentos admito até um pessimismo quanto à mudança de minha parte e em nenhum ponto eu acreditei na transformação radical da realidade do Santa Cruz hoje no ideal que eu tenho do mesmo.

Busquei valores, conhecimento, e ainda busco. Busco uma sociedade menos desigual e violenta e mais livre onde seja possível todos estudarem com professores de altíssima qualidade como os que eu tive a oportunidade e o privilégio de ser aluno. Quero que meus filhos tenham essa mesma oportunidade, mas não só eles! Para mim este caminho idealista a ser trilhado concerne a questões de honra, civilidade e de justiça e sinceramente não creio em seu abandono. Só faço uma observação neste momento da discussão para dizer que, antes de tudo, não me considero de maneira alguma algum gênero de paladino da verdade e da justiça – sei que não sou eu tampouco minhas idéias que vou ou vão salvar o mundo da violência, da desigualdade.

E qual é o problema de, se em tal ponto eu ainda acreditar em minhas idéias, eu levá-las às últimas conseqüências? Não estudo mais lá e por isso tudo aquilo não interessa mais, tudo dessa maneira tão simples? Para mim existem questões em aberto e sim, eu acredito na mudança, eu acredito, pelo menos nesse meio, no poder da conversa e da reflexão – e, se for para eu mudar de idéia que assim seja, a discussão não terá sido em vão nunca! Os argumentos refutados nunca consistem algo a ser jogado no lixo e sim como experiência de vida.

Mas, afinal, quem sou eu para falar tudo isso? Bom, calma, e por que eu preciso ser alguém para perguntar, para questionar uma coisa? Respondendo a mim mesmo digo que é necessário ser alguém para alguém levar a sua opinião em conta. Dirijo-me aos alunos como seu igual, nada mais do que um colega que sentou nas mesmas cadeiras que hoje eles sentam. Aos professores apresento-me como saudoso ex-aluno que sentava no fundo da classe e não tinha as melhores médias de todos. À direção e a instituição do colégio, à autoridade formal da escola, eu me apresento como um resultado recente da equação que foi construída para ser o Santa. Eu vivi onze anos dentro e percebi suas mudanças mais do que vários funcionários com menos “anos de casa” que eu. O colégio não está lá só para fazer dinheiro, pelo que sei ele tem sua missão e, bom, o objeto e produto desta “missão” foi e sou eu hoje. E hoje eu penso e sinto. Melhor, penso e sinto algo sobre a escola. Por que não me ouviriam? Existe a comunicação sempre, até quando um dos lados não reconhece o outro e se indispõe ao diálogo. A constatação é simples – este lado comunica que não quer diálogo. E isto não levaria também à outra bateria de questões?

Minha idéia também nunca foi me dirigir à autoridade escolar apesar de crer que cabe a conversa com a mesma. Eu reconheço a minha juventude e inexperiência frente à diversas coisas e por isso me viro para conversar com quem realmente sei – os alunos. Este é, no momento, o meu canal. Criar o mínimo de discussão sobre onde se estuda num plano menos individual, subjetivo e amedrontado. Somos, como disse, produtos e projetos de algo – devemos ou não saber o que planejam ou planejaram para nós e o como fazem isso?

Além de tudo devo citar outra questão sendo que esta me divertiu. Eu não me interesso pela minha faculdade, pela universidade? A resposta é óbvia; sim, eu me interesso e estou me envolvendo com a mesma, com as idéias, as leituras, as matérias. Passo lá algumas boas horas todos os dias, horas que não se comparam com o tempo que passo pensando diretamente sobre este blog ou as questões especificamente santacruzenses. É uma acusação injusta esta e, bom, acho ser interessante. colocar esta minha posição aqui.

Eu sei que sou um jovem, um adolescente, assim como nossos pais já foram. Geração tão idealista, a de nossos pais... geração de 1968, das Diretas, da luta pela a liberdade, bom, idealista na verdade somente na juventude. Acho que por querer andar para a frente nossos pais nunca acabaram levando seus questionamentos à frente. Quantas idéias foram deixadas de lado? Hoje é comum se incentivar o pragmatismo, o antiidealismo – conceitos que muitos jovens acabam aderindo. Pergunto somente se foi com esta postura, a de ter de ser sempre alguém para poder falar, a postura de abandono da busca pela dificuldade da vida, pela visão experiente da realidade; pergunto se foi com esta postura que eles conseguiram tornar o nosso país? Deu certo mesmo a adoção desse comportamento? Devo desativar o blog? Peço-lhes humildemente que me respondam. O meu voto é contra.

Mas, de qualquer maneira, já cabe agora cortar o cordão umbilical sim.