domingo, setembro 02, 2007

15.

Caros amigos,
Esse post vem falar sobre fatos que aconteceram em minha Faculdade nos últimos dias. Como eu já descrevi em post anteriores movimentos sociais (MST, Educafro entre outros) realizaram manifestação na Academia criando enorme rebuliço. A tropa de choque entrou e realizou a desocupação na mesma madrugada. Enormes debates e intensas discussões sobre tais acontecimentos começaram a ter lugar a partir deste momento e a direção do Centro Acadêmico XI de Agosto foi questionada se sabia ou não da manifestação e, se sabia, por que não havia avisado os estudantes. Ricardo Leite Ribeiro, o presidente do XI, em Conversa Aberta com os estudantes em conjunto com o diretor da Faculdade João Grandino Rodas, afirmou que os integrantes da gestão Fórum da Esquerda, que cumpre o mandato de 2007, sabiam dos planos de ocupação entretando não avisaram os alunos pela dificuldade do diálogo com os movimentos sociais e a possibilidade de que a notícia chegasse ao diretor que, sabendo de tudo, fecharia a São Francisco com o intuito de interromper a manifestação. Os motivos ou não de Ribeiro não ter avisado ao corpo discente tratarei em meu texto mas o fato é que membros da oposição à esta gestão começaram a organizar uma Assembléia para discutir as ações do Fórum da Esquerda e o resultado de tudo isto foi este. E é disso que pretendo tratar.


O que muito nos falta
Primeiramente devo expressar que não quero discutir fundamentalmente o fato do Fórum da Esquerda saber ou não da manifestação de 24 de agosto. Meu objetivo com este texto não é relevar as positividades ou negatividades da atitude deste grupo até porque em meu entendimento estes se encontraram numa verdadeira "sinuca de bico" e isso temos de considerar para analisar os fatos. Por um lado se a gestão avisasse os alunos cumpriria sua premissa de os representar plenamente discutindo assunto de capital importância dada a magnitude das manifestações planejadas e até talvez conseguindo importantes aliados neste movimento - mas correria sério risco de um aviso ao diretor João Grandino Rodas, que fecharia a Faculdade aos movimentos o que causaria uma traição direta à Carta-Programa da própria gestão Fórum da Esquerda que tem como uma de suas premissas essenciais o apoio àquele tipo de movimento. Por outro lado se a gestão não avisasse os alunos, o que de fato ocorreu, esta deixaria a manifestação adentrar a Faculdade sem obstáculos, de surpresa, assim cumprindo com o seu apoio já manifestado à tais movimentos - porém ferindo seriamente sua relação com o corpo discente que, evidentemente, entrou em fúria com o fato de ter sido pego de surpresa por um órgão que teoricamente os representaria. E esta relação, este vínculo, de fato feriu-se bastante. Temos de ter em mente que o Fórum tinha noção da dimensão política de seus atos e é óbvio que considerou que provavelmente a reeleição neste ano após a tomada desta decisão seria uma quimera. Além disso é preciso pensar que, apesar desta decisão em especial ter conseqüências tão peculiares e grandiosas, este grupo agiu de forma coerente com suas promessas incluídas em sua Carta-programa. O Fórum da Esquerda, eleito democraticamente em 2006, foi justamente colocado na posição que ocupa pelas promessas que fez e, pensando desta maneira, representou assim os alunos que o elegeram. Coerência e honestidade são qualidades que percebi nestes atos (além de uma espécie de suicídio político) e não traição e mau-caratismo e é nisso que fundarei meus argumentos em relação às atitudes que se seguiram dos grupos de oposição à gestão do XI encabeçada pelo presidente Ricardo Leite Ribeiro.
Disseram que a atitude do Fórum de Ribeiro foi antidemocrática, crápula e traidora em relação aos estudantes mas penso que a decisão da convocação da Assembléia Geral Extraordinária e as deliberações desta foram ainda mais antidemocráticas e arrisco dizer ilegítimas. Além das inúmeras ilegalidades que levam a Assembléia a ter de ser considerada nula e golpista não consigo conceber como o grupo de alunos se prostra de maneira tão ridícula, ingênua e submissa à grupos com interesses tão baixos.
A destituição do presidente Ribeiro por uma Assembléia extraordinária teria tudo para ser adequada se o próprio tivesse desviado verbas do XI ou se sua gestão não cumprisse nenhuma das promessas que fez - o que evidentemente não acontece. Para mim está claro que grupos de oposição ao Fórum da Esquerda estão explorando a fragilidade da decisão política do Fórum além da conta, além do razoável. É razoável apontar uma baixa representatividade na atitude desta gestão observando o fato da omissão de informações acerca da ocupação. É razoável criticar tal decisão. É razoável dentro de um debate transparente e adequado colocar diversos ataques à burrice ou não dos atos de Ribeiro. Destituí-lo por cumprir suas promessas não é nem um pouco razoável.
Nós estudantes de direito devíamos ser os primeiros a perceber os momentos que fazemos parte de uma manipulação. Não digo que esta seria uma manipulação descarada ou que o grupo X ou a chapa Y tem intenções de dominar o mundo e ficam freneticamente rindo enquanto seguram crânios. O que penso é que deveríamos refletir o que significa uma destituição de um presidente do XI que cumpriu (mesmo que de maneira duvidosa e, para muitos, burra) seu discurso. Significa que se quer por meio deste movimento massacrar a gestão Fórum da Esquerda. Não se contentam com uma justa e democrática vitória (que evidentemente acontecerá) nas urnas na próxima eleição que ocorrerá em outubro. Não, não, não é o bastante. É preciso esmigalhar a esquerda dentro da Faculdade - é preciso destruí-la com todos os métodos possíveis, mesmo que isso possa soar a alguns antidemocrático e golpista. Devemos varrer este grupo e este homem para fora do Largo para que nunca mais voltem.
A verdade é que seus opositores sentem medo da esquerda. Sentem medo justamente na força idealista a que ela remete, principalmente nos calouros. Sentem medo de muitas outras coisas que aqui não quero falar. Mas sentem tanto medo que apoiaram até a entrada de alguns homens vestido de preto no solo sagrado da Academia. Este medo e o desejo ardente por poder é o que faz a oposição recorrer à tais medidas absurdas e insensatas, na minha visão.
E o pior é que estes tem sido apoiados por muitos, muitos alunos, o que que me parece totalmente absurdo. Como não percebemos que estamos sendo utilizados para um açoiteamento político de um grupo que, por mais que tenha errado, merece e tem o direito de democraticamente cumprir seu mandato?
Como não nos entra na cabeça que este açoiteamento não é necessário e não é saudável para o debate político dentro da Academia?
O Fórum da Esquerda? Que sofram ou aproveitem as conseqüências de seus atos nas urnas.
A oposição? Que tome vergonha do que está fazendo profanando as Arcadas com discurso imoral e doentio se aproveitando do estado emocionalmente alterado pela presença do Choque no Largo.
O que nos falta? Olhar para dentro de nossa mente e em volta. Estamos participando de algo que realmente podemos nos arrepender. É necessário examinar as intenções dos envolvidos e perceber que nossos atos podem estar sendo conduzidos sem sabermos.

3 comentários:

Anônimo disse...

Chico,
Gostei muito da lucidez do seu texto! Espero conhecê-lo... me procure na sf.

Um forte Abraço,

Ricardo Leite Ribeiro

Anônimo disse...

Ah, Chiquinho!
Que texto legal! Tão difícil encontrar falas sensatas nesses tempos...
Posso dizer "obrigada"?
Beijo, Flavinha
PS: te ligo mais tarde...

Silas Cardoso disse...

Velho, parabens pelo blog em geral e em especial pelo brilhante texto... tvz o melhor que eu ja li em meio essa confusao toda! Vc poderia publicá-lo na faculdade tambem. Como a flavinha disse, sensatez nessas horas eh mto bom!

Abraço!