terça-feira, janeiro 15, 2008

32.

Antiguidades I
Tive uma idéia legal. Vou colocar aqui escritos embrionários pré-PdO, datados do 1º semestre de 2006. Acho que eles propõe uma discussão muito delimitada do problema santacruzense, mas para mim, especialmente para mim, claro, são interessantes para clarificar a evolução de um pensamento em relação ao colégio numa linha contínua. Lá vão eles.

A Ruína do CSC

Eu e o Santa Cruz

Há 10 anos eu estudo no colégio que todos estamos. Desde a primeira série do Ensino Fundamental 1 o Santa Cruz é a minha casa, minha rotina. É engraçado quando se olha para trás e tudo o que já se fez se passa no mesmo cenário, absolutamente tudo – os primeiros amigos, os melhores amigos, as maiores emoções, as maiores tristezas, as mais profundas angústias e as mais incríveis alegrias – tudo no mesmo palco, o Colégio Santa Cruz.
Acho que é por isso que, similarmente com diversas pessoas, o Santa não é um colégio, aliás, é um colégio que não é para estudar. Nosso colégio é e sempre foi um local de discussão e de formação em todos os sentidos de uma elite, sim elite, pensante e preocupada com o nosso país, o Brasil. Aqui o desafio é, como informa o Plano Diretor de 2005, formar um ser humano integralmente. E o que seria um ser humano formado integralmente? Alguém com Inteligência, tanto emocional quanto racional? Ética? Lealdade? Caráter? Alguém religioso? Espiritual? Feliz? Ou talvez tudo isso junto? De acordo com o que está no que podemos chamar de bíblia santa-cruzense, o Plano Diretor, um homem integralmente formado é aquele que é educado com um conceito generalizador e um ideal de humanidade.

O PD e o Ideário proposto

Seguindo mais adiante no texto que expõe o ideário da escola, na página 7 do PD 2005, o autor prossegue: “A formação humanista ainda hoje pressupõe o homem integral: a educação deve-se dirigir ao conhecimento, á conduta ética e à atitude interior. Nenhuma dessas dimensões nasce ao acaso: são produtos de uma orientação coerente por parte do educador e de uma disciplina consciente por parte do educando”.Mais adiante ainda diz que essa estrutura pedagógica, rotulada como humanismo, vem se ajustando desde a fundação do colégio há 54 anos nos moldes das mudanças sociais e temporais que essas décadas proporcionam.
Mas aonde quero chegar citando o PD e a minha história no Colégio Santa Cruz? Agora sou um aluno que começa a acabar o curso completo do colégio. Já passei por todas as etapas e já me foi dito, principalmente no ano do aniversário de 50 anos do Santa, que a filosofia do Pde. Charbonneau e do Pde. Corbeil, a filosofia chamada humanista, continuava, se perpetuava. A criação de um espaço de desenvolvimento das todas as potencialidades positivas humanas, como é dito no início do PD era certa, estava ali, nos gramados, nas salas de aula e no mundo que é o Colégio.


O(s) Problema(s)

O problema, e é aí que eu quero chegar, é que coisas vem acontecendo que não são propriamente corretas e interessantes a esse cenário, a esse espaço de idéias e a esse espaço físico, arquitetônico. Uma série de fatores me faz tirar tal conclusão, e digo com a propriedade de quem já viu o Santa Cruz dos campinhos de terra, sem o CEI, com a antiga biblioteca e sem o teatro. O que digo não pode ser encarado como uma análise pedagógica tanto do curso como do colégio em si, até porque eu não tenho diploma nem cacife para bancar tal análise, nem mesmo as pessoas a quem critico devem achar que duvido da capacidade ou do jeito certamente superior com que lidam e lideram a instituição. Analisarei fatos recentes, pressões recentes, atitudes, e tirarei algumas conclusões sobre tais itens, sem encarar os pedagogicamente, até por que penso que não é de maneira alguma no corpo docente que reside o problema.

1º.

Primeiramente falo de algo físico, que todos vemos – e sentimos. Falo de obras no colégio. Todos nos acostumamos, desde a primeira série, a pensar quais obras o colégio iria fazer nas férias. Campo society, biblioteca nova, CEI do Ensino Médio e várias outras novidades nos atingiram positivamente nestes anos de estudo e de convívio, e sempre após as férias. E então, praticamente do nada também, surgem imposições no espaço totalmente opostas às positivas, praticamente monumentos contrários aos edifícios que lá estão erigidos. Os toldos de plástico instalados no prédio do colegial são um exemplo dessa conduta arquitetônica, que penso que deve se alastrar para as outras instalações. Chamados por alguns de “Estufa de Alunos” aqueles toldos retiram parte de toda a amplitude e de toda a sensação de liberdade do pátio do colegial. Certamente o arquiteto que projetou o próprio edifício imaginou todo o funcionamento perfeito dos elementos contidos ali: a rampa, os pátios, a ponte, as salas de aula e os corredores. Todos os aparelhos que, em minha opinião, refletem muito do que é o Santa Cruz – a subida da rampa no primeiro dia de aula no colegial, olhar da escada do 2° colegial para o espaço diante da nova cantina (por sinal uma obra que valoriza, essa sim, o espaço do colegial) são coisas, emoções, que ao mesmo tempo junto a todo o espaço proporcionam uma sensação de liberdade, de acolhimento e de juventude. E então alguém vem e instala algo como para pressionar os alunos, um aquário, um laboratório de testes – em minha interpretação como numa estufa, uma gaiola para melhoria de rendimento.
Além da questão da interpretação do algo físico me vem a simples questão do “para que serve?” Que realmente faz sentido. Ninguém até agora conseguiu explicar-me os motivos de instalação do toldo – me deram algumas hipóteses – como o som, a chuva entre outros. Mas digo, existem outras soluções além daquilo, com absoluta certeza, pois os toldos não passam de uma espécie de remendo, uma intervenção no mínimo barulhenta e espalhafatosa – no mínimo. Por que o colégio não contrata um arquiteto para pensar nesses espaços? E se contrata – sem questionar a capacidade – mas por que não um grande arquiteto, ideologicamente compatível com a escola e de peso tanto no meio dos profissionais quanto fora. É de não se entender, de se lamentar. O Colégio Santa Cruz, renomado e dito um dos melhores do país, ter um espaço tão formidável sendo depravado com obras no estilo “serve e é barato”. “A forma segue a função” alguns também dizem – se é assim, qual é a função dos toldos? Nenhum aluno, ou até mesmo professor, sabe.
Já citei que este é um exemplo de degradação, ou propriamente decadência, do espaço do colégio. O que vem por trás disso?

2º.

O próximo tema é bem recente: a proibição sumária do truco. Antes de expor minhas idéias gostaria de mencionar que nunca participei de nenhum campeonato de recreio de truco e nunca fui um jogador assíduo. Eu não sei quais foram as razões para tal proibição de verdade, mas o problema não está aí.
O colégio sempre teve a política de discutir com os alunos os problemas, como numa relação familiar saudável. Nas aulas de OE discutimos por diversas vezes drogas, sexo e escolha profissional, além de diversos problemas aluno-escola, e creio que demos resposta à maioria dos problemas. E então, praticamente do nada, a escola proíbe uma atividade lícita, recreativa e inofensiva. O que ocorreu? Foi nos dito que a situação tenha perdido o controle, que a direção achou melhor cortar o mal pela raiz pois este jogo – o baralho – é uma atividade de azar. Mas então pensei eu: onde estão as antigas discussões? Qual é o papel do aluno nessa situação (que é nova, pois estamos acostumados a debater as nossas idéias)? Devemos parar e obedecer cegamente sem questionar o por que? Não falo de liberdade e sim de coesão. Se a escola escolhe proibir jogos de azar devia também suspender atividades como o bingo e a rifa em suas festas beneficentes, não deveria?
A atitude que a escola tomou, pela primeira vez, foi a de um pai autoritário, totalitário e, sobretudo, dominador. Se faz tanto sentido retirar o baralho da lista de atividades permitidas acho que todos, pelo menos uma parcela, entenderia, compreenderia que a atitude é necessária. E então, mais uma vez, me pergunto: de onde saiu essa mudança de conduta? Quem ou o que efetivamente causou a proibição do baralho?

3º.

Prosseguindo em meus temas agora abordarei algo muito maior do que um fato interno como a tal proibição de jogos de baralho. Algo que vem de certa maneira se aproximando. A nova unidade do Colégio Santa Cruz já estava para sair faz alguns anos e nesses últimos meses vimos no jornal uma matéria estampada com o projeto arquitetônico do local, assinado pelo renomado escritório UNA. A unidade será bilíngüe as aulas em período integral – estilo americano ou britânico, dependendo da visão.
Vemos então que claramente a tal escola seguirá os moldes de outros colégios bilíngües elitistas que vemos por aí. Colégios estes que primam a sua qualidade e capacitam os jovens dessa elite para esse novo mundo globalizado. Lá pode-se aprender tudo que é necessário para fazer a graduação universitária ou a carreira fora do nosso país, ganhando novas fronteiras. Enfim, aprende-se a lidar com o capitalismo financeiro globalizado, despontar nele.
Mas aí vemos a contradição, mais uma vez. Como desenvolver uma elite extremamente ligada a uma cultura estrangeira e individualmente capitalista que fosse ao mesmo tempo voltada também ao nosso país? Como pensar como um grande empresário multinacional e individualista e simultaneamente como um membro de uma elite consciente e, sobretudo, próxima aos problemas do próprio país? É impossível. As idéias do “novo” Santa Cruz não se encaixam com as do “antigo”. É tudo completamente diferente, contrastante: uma elite extremamente preparada para a prática do capitalismo financeiro de maneira global (ou até mesmo essencialmente primeiro-mundista) e outra, teoricamente desenvolvida para além de ser elite também pensar sobre em que as suas ações podem implicar, fundamentalmente também considerando o resto da população de seu país – que, sinto dizer, é muito necessitada.
Esse confronto de idéias de duas elites resulta numa impossibilidade desse novo Santa Cruz existir sem a modificação do antigo. Porque a nova unidade será “Santa Cruz” se tem idéias tão diferentes das da antiga unidade? A Congregação, órgão dono de ambos as instituições (ou seria uma só) poderia dar outro nome a esse novo colégio, pensado de maneira e em situação tão diferente – como existem outros colégios da própria que levam, junto a uma estrutura pedagógica diferente, um nome diferente também.
O que ocorre neste caso é que “Santa Cruz” não é mais um simples nome. “Santa Cruz” agora é uma marca, uma marca a ser vendida. A nova unidade leva o nome do antigo colégio fundado por Charbonneau pois esse agora é um ícone das elites paulistanas e um objeto de desejo.
Planejada exatamente para um setor da população – essa mega-elite que deseja exportar suas mentes em troca de primeiro mundo – a nova unidade tem um excelente planejamento, tanto de marketing como de todos os fatores para desenvolver um negócio, uma empresa, com segurança e rentabilidade. Projeto moderninho, estrutura bilíngüe e integral – copiando estruturas estrangeiras, nome. Todas essas coisas fazem dessa nova unidade um sucesso certo. O colégio terá a fusão de uma estrutura intelectual (a da antiga unidade) com uma mais “preparada” para a vida. Sucesso profissional certo para o aluno – preenchimento certo de vaga para a escola, que cobrará o que quiser, pois que não quer que o filho desponte nesse competitivo mundo?
Tudo isso me incomoda muito. A capitalização, sim, capitalização do nome do Colégio Santa Cruz certamente não seria muito apreciada pelos seus fundadores. Essa instituição não visa lucro, a princípio, mas então o que ela visa? De onde veio tudo isso? Perguntas como essas se multiplicam de várias maneiras: para aonde vai o lucro da nova unidade? Quem teve a idéia? Por que isso agora? O que acontecerá com a antiga unidade? Tudo isso e muito mais – questões essas que ficarão em minha mente. Aonde o Colégio Santa Cruz vai parar?

Perguntas sem respostas

Penso se tudo isso não seria uma certa pressão dos pais no próprio colégio, mas então penso como o próprio nunca cedeu em relação aos mesmos. O vestibular e a necessidade de cursar uma excelente universidade são preocupações óbvias dos pais, mas pergunto se são também do colégio, e pergunto também o projeto inicial era esse.
Os pais certamente têm todo o direito de tomar a dianteira na educação dos filhos, mas acho que daí para fazer o seu próprio colégio distorcendo toda uma estrutura planejada previamente é de certa forma uma atitude extremamente negativa. Quem são esses pais e quais são seus objetivos quanto ao colégio?
Busco respostas ou ao menos alguém para continuar pensando comigo. Quem sairá do colégio pode pensar “mas eu já estou saindo mesmo...” mas então penso: “em que tipo de escola você quer que seu filho estude?”.

4 comentários:

Unknown disse...

sabe, eu posso comentar o que acho de cada um dos textos, inclusive ja devo ter feito isso em algum momento..
mas acho que no fim, é tao pessoal.
pra mim, eu guardo sentimentos mil em relacao a esse colegio. concordo com muitas coisas do que vc disse, odeio ver essas perdas de filosofia e o quanto elas parecem ser o curso natural de tudo quanto é coisa...
mas pra mim, olhando com um pouquinho de distancia de quando eu estudava la, eu cheguei a uma conclusao que pra mim foi meio engraçada...
que, dentre tantas coisas que eu passei no colegio, as unicas que eu realmente lembro sao umas poucas pessoas...
e no fim das contas, o que eu levei do santa nao foi a briga com a patricia, as grades gigantes, as catracas... foram as pessoas.
de uma maneira bem estranha, e que agora eu vejo que nao é paradoxal, acho que muito pelo contrario, é que o santa me fez ver que no fim das contas, não é uma questao de lugar... é uma questao de seres humanos.
esse é o tipo de humanismo que eu quero; e de uma maneira as vezes sofrida, eu descobri isso por mim mesma.
e acho que, nao importa em qual escola eu coloque meu filho.. ele vai ter que descobrir isso sozinho tbm, pq aparentemente todas as escolas transformaram as proprias filosofias em uma coisa distante e intocavel.
é, onde eu vou colocar meu filho?
para o bem ou para o mal (esse sempre me pareceu um termo adequado para o santa) nao vai ser no colegio no qual eu descobri tantas pessoas.
nao sei se nada disso fez sentido, mas enfim"!

Sparkling Diamond disse...

"Os toldos de plástico instalados no prédio do colegial são um exemplo dessa conduta arquitetônica" - Tinha CERTEZA que isso iria aparecer em algum lugar!

Mas enfim...
Concordo com muitas coisas que estão aí ditas e questionadas...São preocupações coerentes...Não posso me dar ao luxo de tentar discutir muito pois estou no Santa ha apenas um ano, minha visão do colégio é limitada.
Mas concordo que de tempos para cá, a direção do Santa tenha se colocado objetivamente autoritária, vejo isso em mais exemplos e não só no exemplo do baralho...é complicado.
Na verdade, prefiro não olhar para o Santa Cruz e analisá-lo como colégio olhando para a arquitetura e para a direção e sim para os alunos. Até porque eles são o resultado de tudo isso, afinal estamos falando de uma escola.
E minha visão do alunos santacruzences desde que pisei no colegial foi de estranha divergência. Não sei ao certo o que isso pode significar, mas de duas, uma: ao mínimo não estamos numa escola onde se procura um modelo perfeito de ser. Quem sabe?

Sparkling Diamond disse...

e chico! Tome vergonha na cara e visite meu blog que quero saber uma opinião sua...

Anônimo disse...

Cala a boca comuna de merda, vai da seu rabicó