quinta-feira, fevereiro 21, 2008

33.

Blogueiros e pretensiosos

Cada dia mais introjeto em minha mente a idéia de que ter um blog autônomo, de "se convidar a si próprio" para escrever numa página da web, é indissociável de uma energia pretensiosa, vulgar e em seu cerne, metida. Todos nós o somos.
Somo pretensiosos pois acreditamos tanto no nosso potencial de escrita que não temos medo de veicular nossos textos por todos os computadores lusófonos do mundo. Somos metidos pois cremos que o que escrevemos é válido para ser lido por todos os usuários dessas máquinas. Somos vulgares pois colocamos nosso pensamento estritamente pessoal no rio de informações bíticas que corre no espaço virtual público, sem formalidades.
Discordo a priori que isso seja um grande avanço. Não o é. Não adianta gritarmos ao quatro cantos do mundo se já houver um amigo no quarto canto que tem um vizinho que grita a mesma coisa. De nada serve expressarmos livremente e democraticamente nossas opiniões se essas são efetivamente vulgares, vulgatas, menores, pessoais.
Temos a ilusão, e já abordei isso quando falei do Xingu virtual, de que todos falamos a mesma língua, afinal todos nós somos índios da tribo dos blogueiros - mentira. Um índio ianomami é igual a um nativo aborígene? Um bororo é igual a um munduruku? Evidentemente não. As linguagens são completamente diferentes e por aí vai.
Tendo em vista essa ilusão e nossa pretensão e vulgaridade coloco a minha questão chave. Somos todos piruá. Ideólogos, escritores, jornalistas, cronistas etc - piruás disso. Sabem o que é piruá? É o milho que mesmo depois de passar pela panela não virou pipoca. Tinha tudo pra ser pipoca, mas não foi.
Blá-blá-blá. Mas isso é evidente, imbecil!
É eu sei que é. Só disse isso tudo pra falar uma coisa: "Baixemos a crista. Todos. Eu inclusive, e, talvez, principalmente". Não são só reflexões palavradeordenianas, são reflexões necessárias. Sem elas não conseguiria andar para frente.

5 comentários:

muriel disse...

Não acho que escrever em um blógue signifique necessariamente acreditar no potencial da própria escrita, ou achar que o que se escreve é válido para todos aqueles que falam a mesma língua, mesmo porque, apesar de os textos estarem disponíveis, nem sempre são lidos (aliás, arriscaria dizer que a maioria do conteúdo da blogosfera não é lido) e, se o são, ainda podem ser sumariamente ignorados. Na minha opinião, o fenômeno bloguísitco é muito marcado pela banalização. Sim, acredito que a maioria dos blogueiros escreve por vaidade, e isso é muito ridículo, pois é achar que o que se pensa e escreve é de interesse geral ou vale alguma coisa. Mas acredito (ou gosto de acreditar) que é possível escrever por escrever, soltar os textos no mar da Internet como se eles fossem mensagens numa garrafa, sem a pretensão de que sejam lidos. Ou pelo menos, não colocar a leitura dos textos em primeiro lugar. Não tem aquela frase "o prazer vem de escrever, ser lido é secundário" (Virginia Woolf, acho)? Acho que muito depende da "atitude" do blogueiro, ou sua intenção. Por exemplo, a maioria dos blogueiros não tem seus textos lidos mas gostaria que eles fossem, e o fato de não serem é em parte culpa deles, por assim dizer. São blógues pretensiosos que geralmente tratam de assuntos pessoais ou extremamente limitados (só interessam a poucas pessoas, ou apenas ao blogueiro). Pra mim, isso é uma pena, pois é um desperdício do potencial da blogosfera. Acho que os blogueiros deveriam explorar mais a interatividade e rapidez de comunicação que um blógue oferece, mas eles disperdiçam isso falando de assuntos pretensiosos e muito pessoais, sem convidar o leitor a participar.

Vou parar por aqui, pois está confuso e pode até parecer que eu gosto de blógues. É só que eu ando pensando muito sobre o maravilhoso (?) mundo dos blógues, e fiquei feliz de ver que vc também pensa.

muriel disse...

pensa sobre blógues, não "pensa" em geral, porque isso eu sei que vc faz.

Unknown disse...

eu tava lendo um negocio do truffaut outro dia, ai ele falou que nao se importava se os filmes dele nao tinham um papel social, e nao se achava imbecil por fazer um filme enquanto tinha gente com problemas em outra parte do mundo, pois ele sabia que fazia filmes porque, se nao o fizesse, ele morria.
pra mim, a coisa funciona assim tbm com a escrita. quando alguem se dispoe a escrever, seja o que for, é porque tem algo berrando que precisa ser escrito. as palavras tem voz, sabe.
e se forem palavras pretensiosas ou inuteis, nao importa realmente.
se nao muda nada, nao importa tambem.
eu realmente acho que as palavras sao uma coisa bem poderosa, e que se elas tao em um texto, é porque tinham que estar.

Anônimo disse...

Eu concordo com vc e Muriel, mas... ai mesmo tempo tenho que dizer que o blog não foi uma ferramenta criada para ser "Arte" ou "algo mais louvável do que uma página aberta e solta, jogada num mar de outros mil blogs". É uma ferramenta de expressão, é PESSOAL. Cumpre com seu papel, não queiramos torná-lo algo que ele não tem a pretensão de ser. Blogueiros e seus blogs são pessoais e limitados e assim devem permanecer...
Essa "vontade" de ser algo a mais é fantasia e falta de foco. Quer ser um escritor famoso, procure uma editora. Quer ser um Critico literário/cinema/etc, procure um emprego...

Eu não levo tão a sério... blog é um pinguim de geladeira. "Olha só, eu tenho um também". Blog não é site.

muriel disse...

sim, de fato os blógues foram criados para serem diários virtuais e, para mim, isso é meio lamentável. Se alguém quer escrever sobre sua vida pessoal, tudo bem, escreve num diário de verdade, mas por que fazê-lo de um modo a mostrar pra todo mundo? Tudo tem que ser um espetáculo, tudo tem que ser celebrado, publicado. Também não acho que blógue precise ser arte, mesmo porque isso às vezes só incorre em mais pretensão; só penso que os blógues não precisam ser tão patéticos e banais como muitos o são. Blógues em geral são limitados, mas de modo algum isso é uma regra, ou pré-requisito. Por outro lado, a arte não se limita a um meio, e não vejo porque ela não acontecer em um blógue (é bem raro, mas não impossível). Além disso, dependendo da intenção do autor, não é necessário ir atrás de uma editora ou virar crítico de verdade; é aquela coisa, escrever por escrever - se alguém ler e gostar, é um bônus. O tosco é escrever somente para que os outros leiam, para chamar a atenção.