Como podem ver dei uma remodelada no layout assim como tinha prometido já a algum tempo. Com quase um ano de "Palavras" já estava na hora de aposentar o gato e inventar qualquer outra coisa.
Heresia e modelos de simulações diplomáticas
A necessidade do questionamento do dogma estrutural
Quero escrever algo complementando o texto sobre simulações, o número 24. Concordo que foi um texto confuso mas de qualquer maneira tentei ressaltar que não há uma raison d'être destes eventos se a sua prática não for simultaneamente auto-crítica e ligada a noções concretas de práxis política. A alienação dita não é uma alienação de tornar o estudante um grande boboca desligado dos mais importantes fatos que acontecem a todo tempo em escala global. A alienação que tento indicar, e talvez usando um termo inadequado, é ligada a idéia de distanciamento em relação à esfera concreta e pública da vida política - a ágora. De qualquer maneira tenho consciência de que dizer isso tudo é re-repetir o já dito no prolixo texto anterior.A necessidade do questionamento do dogma estrutural
O que venho lembrar neste é a importância da auto-crítica que deve estar imbricada sobretudo no conteúdo, na parte acadêmica, dos modelos, e não só no ideário de seus organizadores. É evidente que o mundo não é entendido de uma forma só. Dizer isso não é só afirmar simplesmente que todos os pontos de vista de todos os focos emitidores de opinião são diferentes e respaldar a multilateralidade institucionalizada pois a própria institucionalização também é contraditória e é vista de maneira diferentes e muitas vezes conflitantes. Aí se coloca a necessidade de no conteúdo escolhido residirem sementes diversas de entendimentos diversos e principalmente de aceitações, confirmações, negações e desconfirmações diversas daquele espaço.
É fato que existe uma corrente principal, um mainstream, no pensamento das relações internacionais, contudo não é possível aceitar que este seja imposto como absoluto se o objetivo a ser alcançado nas simulações é um aprendizado pleno e plural. A estrutura tão cultuada das Nações Unidas e a sociedade global, a sociedade em rede de Manuel Castells, são dogmas que precisam cada vez mais serem desconstruídos criticamente pois fazem parte de um dos entendimentos da atualidade. Há de se buscar o entendimento do Real e da obscuridade de algumas construções feitas na pós-modernidade, no pós-11 de setembro.
O ponto é que é injusto não plantar a semente de um pensamento um tanto mais herético nas simulações. Afirmar que isso é impossível, que é complicar demais, é, para mim, fugir ao problema de tentar fazer o evento ser realmente edificante - não há sentido em fazê-lo se se busca se não se busca isso e sim um simples prestígio ou modismo. Uma afirmação de pluralidade e de encarnação simulatória de pontos de vista heterogêneos não fica completa se a estrutura de discussões é tratada como dogma e extendida, e não dialogada, aos simulantes. Acaba sendo feito aos modelistas pelos organizadores e não algo feito com ambos.
E como fazer? A princípio é possível entender que a pergunta desarma e joga o organizador dos modelos em uma situação de impotência. As simulações, nessa perspectiva, tornam-se inúteis, bobocas, ralas e superficiais, alienantes? A resposta pode ser negativa se tivermos em mente que não existem regras fixas para se construirem modelos. A simulação diplomática não é uma caixa que se compra hermeticamente fechada e nem um bolo feito com a receita secreta imutável da vovó. A vovó deixa mudar sim, e, se não deixar, dá mudar de qualquer jeito.
Uma das hipóteses de solução é a de trazer pessoas, palestrantes, para enriquecer a experiência, que tenham familiaridade com a crítica aos dogmas das relações internacionais atuais. Desta maneira os modelistas interagiriam com as idéias e a semente de certa forma seria plantada. E existem também outras maneiras. Um discurso de um dos diretores ao final das atividades que abordasse o assunto, por exemplo, poderia ser tão edificante quanto também colocado como uma pedra no sapato de todos os participantes e tal coisa é algo a ser contado - contudo nunca um obstáculo intransponível. Como o leitor bem sabe o inconveniente muitas vezes vale mais.
O importante é não deixar a peteca cair. Reconheço o valor das simulações e repito isso a quem quiser ouvir. Entretanto tal valor advém de esforços diversos e muitas vezes o anel de brilhante da vovó, ou suas revistas pornôs, estão tão próximos que nem imaginamos.
3 comentários:
sabe, chico, to gostando cada vez mais do jeito que voce escreve. mesmo.
gostei do novo layout!
aah, to indo amanha pra sao francisco e acabei nm te vendo! nos vemos entao... ano que vem? coisa estranha!
beijos senhor chico!
acho uma coisa (a tão esperada lua está atrás de uma névoa pesada - apesar da praia de surfistas que se tornou o Leblo. ... bom, acho assim, tem vezes que tenho a sensação de peso como uma bola pesada acorrentada aos pé desta geração estudantil. Quando falei que vcs são mais darks e expressionistas, tive vontade de brincar que eu e muitos, na sua geração graduação USP/Unicamp/Pucs etc; brincávamos de 'escrita automática', que depois deu - como vanguarda - no email. Linbelús e trostskistas principalemente, sempre ameaçados com a sombra da picareta de Stálin, e assim tendo delays mínimos de ultrapassagem.
O que amarra tanto? Já pensou. Valores. São encarnados e nada metafísicos. Colocados no lugar certo vira birncadeira valores cujos "esforços diversos e muitas vezes o anel de brilhante da vovó, ou suas revistas pornôs, estão tão próximos que nem imaginamos."
Tem chão. Certo e seguro. Pelo menos assegurados, por marmanjos como nós que vêm estas escrituras.
Bou dormir. bjs lili
"libelús", corrigindo - "liberdade e luta", roqueira e nada doméstica. ou domesticada. mas restam poucos.
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