Anexo-Balanço de Palavras de Ordem
Não o blog, mas sim o velho texto sobre o Santa Cruz
Desta maneira creio ser importante colocar uma série de itens aqui sobre como está correndo o pensamento nesse sentido para, assim, dar satisfações a esse respeito e esclarecer novos leitores. Os pontos importantes são, então, a percepção da coletividade de pensamento semelhante, o declarar e o engajar característicos de uma tomada de posição política clara e o encaminhamento de um futuro sempre crescente e a criação de novos campos de análise. Adiante relevarei um por um para maior detalhismo, mesmo que com objetividade.
I.
A questão é que ao longo de conversas e debates obtive a percepção que a indignação em relação à controvérsia constante discurso-ato do Colégio que tive crescentemente desde 2006 não era de maneira nenhuma só minha ou de meus colaboradores no PdO original. Conversei com diversos pares, mais velhos e mais novos (mesmos que circunscritos na mesma geração), e a tentativa de diálogo com a instituição reincide já a algum tempo. É freqüente o envio de cartas que dizem respeito à insatisfação curricular ou de tratamento assim como outras, mais incisivas, que demonstram a insuficiência da prática progressista ou de vanguarda em relação ao discurso, o qual também é alvo de críticas. O aluno crítico, apesar de solitário em seus pensamentos, não é solitário na medida que faz parte de um coletivo velado que ele não sabe que participa.
Não acho que seja uma questão de raridade, isso seria muita arrogância. Resisto um pouco no idealismo de que uma grande parte dos alunos concluintes do Ensino Médio saem com uma cabeça razoável e aberta, mas a questão é que essa abertura é pouco aproveitada. A criticidade é atomizada pela instituição e a discussão, quando dada no foro oficial, é sempre constrangedora. É um completo exagero exigir um direito de "auto-organização" revolucionária do corpo discente também, claro, por duas razões - a primeira, óbvia, é a não-opressão tida por esse grupo, o que retira motivos para tal afirmação; a segunda, tão óbvia quanto a primeira, é a preservada liberdade de associação e de reunião. Assumindo que esse direito é consumado não faz sentido se exigir o outro. Passa longe dessa questão. O ponto é que o colégio se furta sempre de discutir a própria instituição com seus alunos, cada vez mais extendendo à eles um currículo, um tratamento, um método, um aprendizado, uma vivência, um caráter, uma posição.
II.
E aqui coloco outro ponto importante que complementa o citado acima. Essa posição é determinada - ela não varia. O antidialoguismo pedagógico que estrutura as vigas-mestras da instituição é um procedimento que contribui com o processo contínuo de aparelhamento e atrelamento de posições político-sociais dessa pela elite burguesa paulistana atrelada aos grandes bancos, empresas e meios de comunicação. Não é um complô, claro, mas sim um desenvolvimento dado em paralelo, simultâneo e estruturalmente ligado, construído.
Não discutir as demandas críticas à qualquer respeito e fazer questão de centralizar e mistificar as decisões enriquece o símbolo intocável da direção ao mesmo tempo que fortalece um modelo de currículo e de visão educacional rebocada pela força do vestibular e das tensões de classe presentíssimas em São Paulo e no Brasil. Discordo que qualquer crítica vá no sentido contrário, fortalecendo um projeto democrático em amplo sentido e crescentemente popular de país, mas a feita por este blog anda rumo a essa meta e a de muitos alunos também.
E é por isso que declaro que a continuação da observação do colégio construiu a minha posição política ainda em construção abrindo espaço para a percepção de um outro projeto de Brasil e de educação construída junto. Não compactuarei aqui com a privatização da educação em qualquer sentido e a colocação dessa ao interesse oposto ao popular e isso é resultado daquelas reflexões.
Porquê não falar? Porquê não discutir a escola na escola? Porquê o não questionar o próprio papel do jovem rico? Porquê não propôr um ensino cada vez mais dialogicamente crítico à uma sociedade cada vez mais excludente? Não bastam professores gritarem sozinhos, só os das ciências humanas enquanto o currículo vestibulárico cai sobre suas cabeças - a arte, a ciência natural, a arquitetura e os espaços, o lidar com as atualidades e a gerência interna de políticas do próprio colégio contribuem para tal construção tanto quanto alguns berreiros histórico-filosófico-geográficos.
III.
O futuro, por sua vez, vai se encaminhando.
Já declarei a alguns amigos próximos a vontade de constituir discussões crescentemente acadêmicas sobre a história e o processo de crescimento da instituição Santa Cruz.
Outro desejo é a construção de grupos de discussão a respeito da escola e do papel do aluno naquela escola especificamente, e isso vai sendo encaminhado.
O negócio é tocar tudo sem pressa e com um compromisso de importância renovada. Outros desafios sem ser o Santa Cruz se colocam em nossas vidas e muitas vezes se mostram mais importantes. Inicio um período novo agora e creio que as atenções nesse sentido serão inevitavelmente reduzidas - mas não esquecidas e sempre desenvolvidas.
Assim, mesmo reduzindo as atividades, criam-se frutíferos novos campos de análise, conseguidos com o contato cada vez mais diferenciado deste ex-aluno com a instituição e com a comunidade. A análise da obra teórica de Charbonneau e o contato pessoal-institucional é muito enriquecedor e traz boas conversas e pontos de reflexão.
Basicamente é isso. Espero ter colocado tudo em dia. Dúvidas serão respondidas prontamente.
5 comentários:
Nunca pensei em encontrar um blog tão cheio de conteúdo.
Estou favoritando e volto aqui para virar uma traça virtual de todas essas páginas. =)
Puxa, obrigado.
Como chegaste aqui? Quem é você?
Adorei. Adorei, chico. O ítem 3 é o meu favorito.
E me veio à cabeça que você deveria escrever sobre a crise dos roteiristas americanos, queria muito saber o que vc tem a dizer!
Oi Chico, sou uma desconhecida, achei o seu blog sem querer e adorei. Adicionei um link, ok?!
Parabens! bjs
uhru, eu sou o 1576.
eu gostaria de incentivar essa sua idéia dos grupos de discussão, mesmo com toda aquela história da sis, acho fundamental iniciativas como essa...
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